Monday, November 17, 2008

Síndromes dos tempos modernos (ou ônibus 2)


Todo mundo está ficando pouco a pouco mais louco. A cacofonia dessa frase só não supera sua afonia. Por que mais loucos? Por que mais estamos? Por? Quê? Loucos?!
Pois é, pois é... Como eu estava dizendo, eu estava no ônibus e reparei como é bizarra a atitude que tomamos quando o coletivo está lotado. As pessoas que têm com quem conversar, conversam. Falam sobre os mais variados temas, sem notar que existem mais umas trinta pessoas escutando discretamente o que falam. Chamarei isso de síndrome da inaprivacidade. Quando estamos incapazes de expressar nossos sentimentos de forma secreta e comum(algo como um livro de capa escura, escrito Bíblia, explica como), simplesmente ignoramos todas essas 30 pessoas. Essa é uma atitude racional? Claro que não, mas quem quer ser racional quando se está numa espécie de dança erótica, dentro de uma caixa de ferro, aos tranco e barrancos, indo para casa?
A síndrome de inaprivacidade se caracteriza por uma ligeira abstração da realidade e do que exatamente está encostando, intermitentemente, no seu ombro esquerdo. Pessoas com um ligeiro desvio para o altismo serão mais vítimas dessa síndrome, e não notarão, mesmo que gritem ou ponham em um letreiro em neon, que há um velhinho carente em pé no ônibus pedindo amigos e cantando "Sábado de sol". Talvez essa mesma pessoa nem note que está batendo palmas e cantando com o velhinho, junto a mais trinta pessoas hipnotizadas. E finalmente, há aqueles que chegaram a um patamar superior no nível da abstração, e ignoram completamente uma pessoa que lhe dá um empurrão e chama por seu nome, achando que é "apenas um engano".


"Sete soldados chineses revezavam-se fazendo acrobacias sobre o tatame."

Thursday, October 23, 2008

"Pegue uma balinha"


Aquele chocolate está há mais tempo do que deveria naquele pote de vidro. Está há tanto tempo lá que em breve completará aniversário, e teremos que fazer um bolo de carne para que ele não se sinta ofendido. E o pior: eu não tenho a mínima idéia de como se faz bolos de carne.
O chocolate é tão antigo que já faz parte da família. Acredito que nós até tenhamos dado lhe dado um nome, mesmo que este tenha sido esquecido como o de primos ou tios distantes. Um pai distante jamais terá seu nome esquecido, mas basta que um primo não seja visto por oito meses para que se esqueça seu nome. Com um ano, até suas feições serão esquecidas completamente.
Esse chocolate, como ia dizendo antes de minha revolta me interromper, é tão idoso que perdeu o gosto para o plástico, mesmo o plástico não possuindo sabor algum que eu saiba. Talvez um residual gosto de petróleo, quem sabe?
Se você abrir o bombom agora, ele não fará aquele barulho de roçado do papel alumínio dobrado e esfregado, mas rangerá como uma porta de igreja e se desmanchará em pó no ar. Ou talvez ele gema um pouco e, faminto e confuso, já que há muito tempo passou do prazo para ser comido, pense que está com fome e me dê uma mordida no dedo. Eu me sentirei tão embaraçado com essa atitude do Mui Ancião Chocolatus que o jogarei assustado no chão da cozinha de vovó Palmira, e sairei de sua cozinha vermelho como um pimentão vermelho.

Tuesday, September 23, 2008

Lei mais ou menos seca


Ah, sabe como é. Tava passando por aqui e resolvi fazer um post. Coisa rápida. Fulgaz!

Bem, isso já é notícia velha, mas houve uma polêmica enorme sobre esse negócio de Lei Seca e tudo o mais. Parece que todas as pessoas do mundo se revoltam quando alguém quer interferir na sua liberdade de tomar um porre e matar um monte de gente num acidente, mas ninguém se importa muito com escândalos políticos e milhares de C.P.I.s por aí. Eu sei que estou exagerando, mas dessa vez nem tanto. Olha só a nossa natureza de homicidas alcoólotras se revelando(é, agora eu peguei pesado). Mas enfim, será que ninguém tem o mínimo bom-senso para perceber que essa lei não é rígida demais? Só é preciso prestar um pouco de atenção no que o deus da tevê fala em seus comerciais. A frase não é "se for dirigir, beba só dois chopps", é simplesmente "se for dirigir, NÃO BEBA!". É tudo. Cruj, cruj, cruj, TXAU!

Thursday, August 21, 2008

Mada e propagandas(ou Chuá chuá, hu hu, Johnsons Baby Shampoo!)


Putz, foram muito fodas os shows do último dia do mada. Haverá quem diga que outros dias foram melhores, como o dia do Rappa ou o de Pato Fu, e eu direi que foi melhor o meu dia. No seu dia teve Seu Jorge cantando Chaterton("Kurt Cobain?... Suicidou! Goya! ENLOUQUECEU!!! E eu? Não vou nada bem...")? No seu dia teve PsyTrance na tenda o tempo todo(mesmo eu não ficando lá mais do que cinco minutos)? No seu dia teve Montage ou Mallu Magalhães com uma banda que tocava melhor do que ela? Na porcaria do seu dia teve chuva, por acaso?!!!

Bem, a chuva foi uma coisa meio difícil de aguentar, mas de alguma forma estranha foi até bom, pelo menos para mim, mas isso é uma coisa muito pessoal e divina, s.e.q.v.m.e..

Ah, cara, como são instigados os caras da Epopéia da Chama Mágica; quer dizer, a Poesia da Labareda Enfeitiçada. Hum, é quase isso... Pelo sim, pelo não, foi quase uma coisa tribal aquelas pessoas dançando um pouco úmidas de chuva e suor, incorporando os espíritos das deusas que o cara invocava. Uh! Quer dizer, essa foi minha impressão, a sua, dependendo de sua fé, pode ter sido pior. Pulei muito e minhas pernas doíam quando cheguei em casa, mas provavelmente Yemanjá ou a Senhora da Paz veio me curar. Ou então foi a benção universal de Pai Jorge. Enfim, esse post já está meio grande e vai ficar maior. Só que o resto é sobre Marketing e minhas opiniões subversas, inversas, diversas, sei lá! Enjoy...

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Cara, eu sou um viciado em comerciais de televisão. Existem pessoas que só é preciso que o programa entre na vinheta(aquele abertura-fechamento dos programas, o plim-plim da globo) para mudarem de canal, mas eu não. Às vezes, eu até espero o intervalo do Jornal Nacional para ver a nova propaganda da Coca-Cola(verdade verídica).

As minhas propagandas favoritas são as de carro e de cerveja. Antigamente, também gostava muito quando passavam propagandas de cigarro, aquele ar inóspito e desolado das pradarias desérticas, enquanto o cowboy sacava uma carteira de Marlboro e dava aquela fumada filosófica. Muito cool, man... pena que mata, necrosa a pele, deixa os dentes amarelos e o pau mole. Tirando isso tudo, muito coool, man...

Como eu dizia, também gosto das propagandas de carro e de cerveja, que ainda não foram proibidas por uma razão que desconheço. Quer dizer, se cigarro faz mal, bebida também faz, além de provocar um monte de acidentes e, o mais importante, se não deixa o cara impotente, ainda faz o cara adquirir uma pança que deixa qualquer mulher bem broxada. Agora as propagandas de carro nunca devem, e provavelmente nunca vão ser, proibidas. Putz, é sempre um clipe tão emocionante, cheia de força e esperança, com músicas felizes; e quando você pensa: "Puxa, eu vou entrar pro Greenpeace agora!", aparecem dois dáblius cruzados.

Não é muito difícil ver como a cabeça desses caras que fazem marketing funciona. Por exemplo, se for um carro de luxo que eles querem vender, algo para dar status ao carro vendido é colocar uma música clássica na propaganda - normalmente qualquer coisa das quatro estações de Vivaldi. Se for um carro que oscila entre o luxuoso e o exótico, a propaganda ou vai ser com milhares de mensagens subliminares, como "escute seu corpo", e pessoas famosas fazendo coisas incríveis e comuns, ambas ao mesmo tempo. Agora se for um carro "popular", algo perto dos trinta mil reais, a propaganda será divertida, com piadinhas a respeito de quem não possui o carro. É claro que tudo isso varia; um carro tipo pick-up estará com certeza no meio da lama, dos morros de pedra, nos desertos do Atacama e Saara, fazendo levantar muita poeira, mas tudo é possível durante o processo de convencimento do público alvo: VOCÊ! Não, não é você, liso que está lendo isso, é VOCÊ cheio da grana, que trabalhou muito pouco para conseguir ser um milionário e ter dinheiro para comprar um Audi ZX2010 Super luxo 4000+. Porque VOCÊ merece o melhor. Porque VOCÊ está pedindo por isso. Porque, com esse carro, VOCÊ terá o mundo aos seus pés. Etc, etc, etc...

Também há as propagandas eleitorais, que estão bem em voga agora. Eu não sei vocês, mas eu me divirto assistindo um Batista dos Côco querendo se eleger pra deputado, ou as centenas de filhos de vereadores famosos querendo entrar para a querida família da corrupção. Um dia desses eu vi o candidato para prefeito do PSol dizer que suspeitava de um acordão da candidata do PT e do PV. Tem que dar um nobel para esse cara, sei lá, qualquer coisa pra mostrar pro mundo o quão gênio ele é. A candidata do PT simplesmente fez aliança política com oito partidos(quase não dá pra contar nas mãos). Agora, das duas uma: ou existem mais partidos que candidatos a prefeito, ou alguns desses partidos também estão em aliança com o PV. Putz, como esse cara conseguiu supor isso tudo em tão pouco tempo? Será que ele suspeita, tipo assim por acaso mesmo, que aqueles aviões que bateram nas torres gêmeas foram de propósito? Será que ele suspeita também de famílias inteiras que se envolvem na política por aqui, praticamente num nepotismo descarado? Acho que não. Ele é esperto, mas não tanto.

Ah, e tem aquelas propagandas novas de consciência na hora do voto. Uma pessoa com um problema que dura quatro anos, normalmente algo muito bizarro e triste. Adorei aquela da garota que só podia andar em círculos. E a do cara que chorava com o toque de celular, que coisinha mais fofa do papai. Fecha o livro e vai assistir tevê. Ou melhor, propagandas. Elas estão ficando melhores que os programas...

(Nenhum Bebê foi ferido durante essa postagem)


Wednesday, June 11, 2008

Recorde

Eu estava verificando postagens antigas quando percebi uma coisa aterrorizante: tem post pra caralho nesse blog. Então eu fui ver em quantas ia e descobri algo ainda mais aterrorizante(toca a musiquinha com eco de Jason 3): faltam cinco ou seis posts para esse troço chegar a marca dos cem. Putz, como eu consegui perder tanto tempo aqui? Pior, como as pessoas conseguiram me aguentar até agora?! Ei, obrigado por tudo, mas eu acho que não vou mais aperrear vocês aqui, até porque se chegar nos cem vai ter que virar uma coisa séria, eu vou ter que colocar um template decente, começar a corrigir o que eu escrevo e todas aquelas coisas que fazem os pseudo-escritores, os que acham o fato de possuírem um blog razoavelmente visitado motivo de orgulho. Como eu tenho muito medo de virar uma dessas pessoas, acho que vou parar por aqui. Ou então vou começar a apagar posts, o que for menos doloroso, hehe...
Bem, era isso. A história de baixo conta como um homem pode se desesperar por muito pouco(ou não, já que o lugar onde ele vive é totalmente destruído). Para quem quiser uma literatura de alto nível, eu recomendo Bukowski(eu nunca li, mas Netto "o Bob" Lins está lendo Misto-Quente e disse que é bom); agora para quem gosta de ler as porcarias escritas por mim e outras pessoas abstraídas da realidade-real-em-que-vivemos-contadas-por-nossos-pais-para-esconder-a-conspiração-alienígina-e-dos-suecos então divirta-se. And Remember, Remember, in the Fifth of November: "1 + 1"

Construçaõ(ou Buarque "O Padre Holandês Voador" da Chica)


(ou Geogre, Goerge, Gegore, Gogree...)

Certa manhã de abril, George acordou e percebeu que havia se transformado em um inseto monstruoso. Ah, não é verdade, é só que ele não tinha feito a barba ainda. Bem, depois de fazer a barba e tomar seu café, se despediu da esposa para ir ao trabalho e foi. Entretanto, quando ia tirando o carro, percebeu um pequeno detalhe: a última casa da rua - três casas separavam sua casa desta - havia sido demolida. No lugar da bela mansão havia agora um enorme morro de escombros. O fato o pertubou ligeiramente, pois era uma bela casa de três andares, uma piscina enorme e uma garagem com o jogo mais completo de ferramentas que já havia visto. Mesmo assim o dono resolvera destruí-la, provavelmente só para construir uma três vezes maior no lugar. "Esses ricos gostam de esbanjar...", resmungou George, mas era um comentário impróprio para ser feito, já que ele mesmo era um desses ricos. Ele entrou no seu Porsche novinho, sentindo o couro e o gosto doce de se sentir importante, até que seus pensamentos flutuaram para a futura casa do final da rua. Irritado, saiu da garagem rápido demais para que um dos vizinhos que ele mais gostava de irritar pudesse ler um adesivo na traseira do carro, que dizia: "Meu outro carro também é um Porsche", o que é absolutamente uma mentira.

Quando voltou do trabalho à noite, George perguntou para sua esposa se ela sabia alguma coisa a respeito da demolição, ao que ela respondeu com uma negativa. Isso era estranho, pois ela era especialista em conseguir informação íntima da vida das pessoas, uma futriqueira profissional, um dos motivos que fizeram George se casar com ela. "Bem, não deve ser nada de mais.", pensou, mas ele próprio não acreditava nisso.

No dia seguinte, George fez a mesma coisa do dia anterior, até chegar ao jardim com seu "segundo" Porsche. Dessa vez, para maior surpresa de George, estavam dois montes de entulho no final da rua, a última e penúltima casa demolidas. Dessa vez, ele realmente ficou nervoso; sentia que alguma coisa importante estava acontecendo e ele não estava participando. Provavelmente um grande investimento, e aquelas raposas que se diziam vizinhos não haviam contado com sua participação. Ele precisava saber o que era. Por isso, foi até o único vizinho com quem falava naquela rua - a antepenúltima casa, ao lado da casa demolida -, e descobriu, para sua maior surpresa de todas até agora, que havia um aviso na porta dizendo que ele havia viajado há duas semanas. "Merda, o que diabos está acontecendo?", e foi embora para o trabalho já estressado.

Depois do trabalho, refez a pergunta à sua esposa, recebendo, como era de se esperar, a mesma resposta negativa. Naquela noite, dormiu mal pensando na quantidade obscena de dinheiro que aqueles desgraçados estavam ganhando nas suas costas. Decidiu descobrir o que era, não importava o que tivesse que fazer.

No dia seguinte, saiu sem tomar café e sem se despedir da esposa. Deu a partida em seu Porsche, fazendo roncar o motor no ponto morto. Adorava fazer isso; dava uma sensação de poder absoluto, só não sabia que aquele motor era potente demais e, se continuasse a forçá-lo desse modo, algum dia iria fundí-lo, mas não hoje. Hoje, George iria descobrir que a casa do único vizinho com quem falava havia sido demolida também, e no lugar estava um morro ainda maior de escombros, pois era a maior casa da rua; era uma casa tão grande que podia abrigar uma pequena favela e ainda a família do dono, mas nada disso importava muito, pois aquele monte de entulho não abrigaria nem ratos agora.

George descobriu isso ao mesmo tempo em que um "Puta-merda!" tomava forma lentamente em seus lábios. É um mistério da vida, mas antes mesmo de ver ele já sabia o que o esperava, por isso não foi uma grande surpresa como nos dias anteriores. Desesperado, ele foi falar com o vizinho do lado. George não falava com o vizinho do lado, mas a situação era de necessidade emergencial.

A conversa não foi lá essas coisas. Foi algo como:

George - Bom dia!

Vizinho do lado - Bom dia...

George - Então...

Vizinho do lado - Sim?...

George - Você já percebeu que estão fazendo reformas por aqui?

Vizinho do lado - É mesmo? Hum... - aqui o vizinho olha para os lados mas sem olhar, apenas para confirmar a dúvida de George, o que é uma atitude bem estranha, na opinião de George.

George - É, pois é. Então é isso, só passei para saber se você já... havia tomado, quer dizer, hã... conhecimento. Bem, até logo...

Vizinho do lado - Até! - e o vizinho fechou a porta batendo na cara de George.

Na verdade, o autor acha que não foi nem mesmo uma conversa; foi mais como alguém falando com um espelho e fazendo "Aham" para suas próprias perguntas. Esse tipo de conversa é bem agradável para pessoas narcisistas e/ou esquizofrênicas, é quase como um ruído branco, mas não conta como troca de opiniões entre duas pessoas sensatas que existem. Bem, o importante é que George tentou conversar com todas as pessoas da rua, sem conseguir nenhuma informação útil. A maioria havia viajado, mas alguns, uns poucos, abriram a porta e tiveram o mesmo tipo de conversa anterior. Decepcionado, George foi para o trabalho sem conseguir descobrir nada.

Ao voltar, nem se dignou a perguntar nada a esposa. Na verdade, nem se dignou a falar com ela. Jantou e foi direto para o quarto que dava de frente para a casa do vizinho, a próxima a ser demolida. Uma coisa que havia acabado de notar é que ele não ouvia as casas serem demolidas, e quando a empresa responsável pelas obras chegasse, ele poderia perguntar alguma coisa a respeito.

Durante toda a noite George esperou, e durante toda a noite George nada viu, até que amanheceu sem a casa do vizinho ser demolida. De uma forma estranhamente feliz, George desceu para tomar o café, deu um beijo romântico (ou o que ele achava romântico) na esposa, que não retribuiu por ainda estar irritada por ter sido ignorada a noite anterior. Ele não percebeu nada, e isto, aliado a inúmeras outras vezes em que ele ignorou os sentimentos dela, fez o seu casamento virar uma percentagem de pensão num documento de divórcio, mas não hoje. Hoje George descobriu, ao retirar o "outro" Porsche da garagem, que as duas casas que ficavam depois da sua e uma da esquina do outro lado da rua da sua haviam sido demolidas. "COMO TRÊS CASAS SÃO DEMOLIDAS SEM EU PERCEBER?!". Não houve resposta para ele, mesmo pronunciando tão claramente as palavras, logo não haverá resposta para nós - todos lamentam. Entrementes, ele foi para o trabalho desanimado, o que fez receber a primeira reprimenda de sua vida, mas não a última, nem mesmo daquele mês.

À noite, sem jantar ou falar com a esposa, foi até o sótão e esperou, como um espião com seu binóculo, o momento em que chegariam os tratores. No entanto, já faziam duas noites que ele não dormia bem, portanto sua vigília só durou até às nove horas, quando ele apagou sobre o parapeito da janela do sótão.

No dia seguinte, desarrumado e com a barba por fazer, o farrapo-humano em que George havia se transformado foi ver o que havia acontecido lá fora. Antes percebeu que havia sido arrastado para o sofá da sala pela esposa, e não para o quarto como seria de se esperar. Iria perguntar o motivo disso, mas antes descobriria o que acontecera lá fora.

O sol brilhante cegou seus olhos, os passarinhos cantavam felizes e o vento soprava suavemente. Era sábado e todos estavam felizes, exceto George e sua esposa. Demorou um pouco para ele se acostumar com a claridade, mas ele já sabia, ele tinha certeza, não importava o que dissessem, do que iria ver. E o que viu não traiu suas expectativas: a sua rua, antes um conjunto residencial de alto nível com as mais belas casas que o dinheiro podia comprar, agora se resumia a muita poeira, entulho, concreto, madeira e tudo que formava aquelas casas caríssimas. Uma coisa era bem certa, se todo esse material de concreto, madeira, vidro, entulho e poeira pareciam bonitos quando juntos e em ordem, separados se assemelhavam a um desastre cataclísmico.

George nesse momento surtou. Foi um surto bem interessante, cheio de tremedeiras, palavras desconexas e até um pouco de baba. Após esse surto bem original, sua esposa achou melhor procurar uma ajuda psiquiátrica e um advogado, e nosso desafortunado personagem foi parar num sanatório particular durante alguns meses.

Quando voltou, completamente re-estabelecido e sano, foi levado vendado para casa às pressas. Durante meses ficou em casa trancado, com as janelas vedadas, muito sorvete e todas as temporadas de sua série favorita. Assim viveu tranqüilo, até que um dia - ou uma noite, ele não saberia dizer -, decidiu sair e ver o que havia acontecido lá fora.

Quando abriu a porta da frente, depois de remover tábuas pregadas e muita fita isolante, deu de cara com um armário de limpeza, cheio de vassouras e detergente, e uma outra porta depois. Intrigado, ele foi até a porta e a abriu também, não sem sentir um pouco daquela apreensão e nervosismo familiares se infiltrarem em seu espírito, logo detidos por uma dose cavalar de calmantes. Então abriu a porta e deixou a luz de lá fora entrar. E o que viu fez a dose cavalar querer fugir galopando por sua boca.

Lá fora as pessoas andavam para lá e para cá, entretidas demais olhando vitrines para se importarem com um gordão descabelado e a barba por fazer que acabara de sair do armário de limpeza. Além do mais, elas sabiam que esse tipo de coisa não acontece, principalmente em shoppings. O gordão olhou para tudo embasbacado por uns minutos, até que, com um suspiro resignado, fechou a porta e voltou para o sorvete e sua última temporada de Friends.

Sunday, June 01, 2008

A mais bela das artes perdidas(roubar um segredo).


Existem algumas pessoas que são naturalmente hipócritas. Algumas até sabem disso, e talvez se orgulhem de algum modo cínico. Entrementes, todo mundo é hipócrita durante alguns momentos na vida. Por exemplo, aquele filho que odeia o pai ou a mãe, ou ambos, mas que no dia das mães evita ao máximo falar mal com eles. Em qualquer outro dia ele quebraria o barraco, mas por ser dia das mães ele fica pianinho mesmo que a mãe diga que a namorada nova dele é uma vadia. Ainda que ela seja uma vadia, por que um data festiva criada por estudantes idiotas de marketing deveria governar as suas vidas? Ainda bem que no dia seguinte existe a doce e fria vingança.
Existem hipócritas interesseiros. Qualquer pessoa que um desses considere do seu nível ou inferior ele desrespeita, fala mal ou simplesmente ignora. Entretanto, quando esse tipo de pessoa vê alguém que lhe atrai, ou então uma pessoa que pareça de algum modo superior em intelecto, beleza ou simplesmente estilo, então essa pessoa o torna um ser mítico e lendário, um ídolo a ser adorado. Algumas dessas pessoas são irascíveis, mas se tornam bastante amigáveis quando há qualquer interesse.
Há pessoas que pensam que "faça o que eu digo, não faça o que eu faço" é uma espécie de filosofia de vida. Entre essas, muitos padres, freiras, pastores e afins. Mas entre esses também estão aqueles que sofrem diariamente quando outras pessoas lhe taxam por alguma característica específica, lhe denominando por: emo, puta, nerd, cdf, bicha, mas quando se trata de rotular outras pessoas se sentem bastante à vontade, esquecendo o quanto sofrem quando a brincadeira cruel é com eles. É claro que a memória é curta; é claro que todos temos o direito de sermos imbecis, mas é claro também que a única pessoa a quem podemos reclamar quando somos imbecis é nós mesmos.
Existem aqueles que não entendem pra quê serve se perguntar por que as coisas são do jeito que são. Eles acham que tudo sempre foi do jeito que é, e nada vai mudar nunca. Estas pessoas nasceram estáticas, já bastante idosas e nunca aprenderam nada de novo e interessante, exceto aquilo que estava empoeirado na prateleira mais ao alcance. Essas pessoas costumam admitir uma idéia genial, logo depois que todas as pessoas ao seu redor já o fizeram. Provavelmente só admitem publicamente que a terra é redonda, e guardam em segredo, no armário, um globo quadrado com a pangéia impressa em xilogravura.
E finalmente, mas não menos importantes, existem todos aqueles que são sinceros o tempo todo, mas só são os maiores hipócritas do mundo, porque na verdade estão mentindo o tempo todo. Eles acham que se tornam moralmente irrepreensíveis quando repreendem moralmente alguém, nunca imaginando que ninguém tem o direito de julgar seus iguais, exceto se fizerem isso para se divertir e explicarem esse detalhe para a vítima depois, da forma menos clara possível. Entenderam?


Saturday, May 24, 2008

Diário de... Adolescente... com amnésia... infinito... x1...4torradas...desculpamos inconveniente nos pelo


Eu estava indo para a escola quando notei uma coisa incrível e extraordinária, exceto pela parte do incrível e extraordinária. As mulheres não usam mais meias, ou é só impressão minha?... Bem, na verdade essa hipótese se baseia em algo anterior, o fato delas não usarem mais tênis ou qualquer calçado fechado, ou seja, só usarem sandálias sempre, não importa o evento social ou o local onde estão. Deve ser bem mais desconfortável pra aquelas que vivem andando por aí, pelo centro ou alecrim, ficar andando com essas sandálias que às vezes cortam o pé, ficam escorregadias, enfim. Mas parece que elas se importam menos com o próprio conforto do que com o modo como os camelôs vão olhar para elas. Ou talvez a sandália que compram seja mais confortável do que qualquer uma que eu tenha experimentado(se piadinhas de travesti aparecerem vocês vão ver...).

A partir daqui o post perderá um pouco de coerência textual, mental e metafísica...

O curioso delas não usarem mais meias continua a bater nessa mesma tecla, já que as meias também servem para o conforto(até porque aqui não faz frio). Ou talvez isso seja mais uma daquelas conspirações delas; talvez elas suem mais do que os homens pelos pés, e como não admitiriam isso nunca(provavelmente não é muito feminino), decidiram criar essa moda de sandálias para se safarem. Mas a mim vocês não enganam.

Bem, mudando um pouco de assunto, alguém já viu a revista do CEFET? Aparentemente ela foi criada por Armênio e amigos(o povo da juventude comunista, sei lá qual a sigla...). O nome dela é "Tá na Cara!", e quem quiser ler pode ir até a siciliano, sabe, lá na seção onde tem escrito revistas em cima. Agora, se bateu em você aquela vontade irresistível de fazer a piadinha óbvia: "Sim, mas qual é o nome da revista?", e eu responderia " Tá na Cara!", e você repeteria a pergunta e eu repetiria a resposta, até que eu me irritasse bastante e o defenestrasse, se contenha um pouco. Espere até esse post acabar.

A revista é bem bonita, sabe? Mas tirando uma reportagem sobre o centenário do CEFET, incluindo todos os nomes pelos quais foi chamada nossa querida escola de vagabundos, nada de muito útil. Tem uma crônica de Leon K. Nunes, com um conteúdo altamente político; um artigo feito por Poliana(esqueci o sobrenome) em homenagem ao mártire político Ernesto Guevara e outras coisas sobre quadrinhos. Quando eu vi no índice alguma coisa com Edgar Allan Poe, quadrinhos e blá blá blá me animei um pouco, até descobrir que era falando de um site onde se baixa HQs - site esse que eu conheço há mais de um ano. É claro que eu posso estar sendo um pouco cruel, o trabalho deles é derivado do esforço de muitos, como diz Armênio no Editorial(um clichê para revistas recém-fundadas), mas eu não gostei e tou falando do que não gostei. Mas o que eu esperava afinal? Ah, sei lá, quem sabe uma reportagem bombástica sobre abuso sexual por parte do diretor-geral, ou algo do genêro sensacionalista. A imprensa marrom é bem mais divertida do que a imprensa estudantil café-com-leite. Eu quero ver sangue...

O parágrafo anterior terminou de uma forma meio psicótica, então o post vai ser adiado um pouquinho. Eu assisti SpeedRacer essa quarta, com uma companhia um pouco inadequada para filmes de corrida. Mesmo assim gostei do filme, bem exagerado e tudo o mais. Com "tudo o mais" eu quero dizer efeitos de brilho, computação gráfica, explosões quase o tempo todo, falas clichês, até mesmo a cena romântica tinha efeitos especiais. O legal foi que eles deixaram um pouco dos efeitos parecerem com o visual do desenho, algo meio psicodélico dos anos 70, cenários e espirais em 16 cores(avançadíssimo na época). Seria mais legal ainda se quando eles brigassem aparecessem aqueles "Pow!", "Argh!", "Crash!" que haviam no desenho. Bem tosquinho mesmo. O filme é bem como o desenho, e é claro que o cinema tava lotado de crianças com seus pais saudosistas. Havia até um garoto que, durante o filme inteiro, fazia as observações críticas mais óbvias: "Ela ama ele?", ou "É o Rex, né?", ou no finalzinho "Ah, ele fez plástica." - essa última observação foi feita instantes antes da grande revelação, algo que quase me impressionou. Ah, eu devia ter dito para vocês não lerem esse pedaço se não assistiram ao filme ainda, mas eu não quis. Simples como uma torrada. Falando nisso!...

Thursday, May 01, 2008

Mendigos S.A.



Um dia desses, qual, na verdade, não importa, eu estava no ônibus indo para algum lugar, lugar este que também não tem importância alguma para a história. Como eu ia dizendo antes de me interromper, eu estava no ônibus e entrou, passando por baixo da roleta, um daqueles garotos que vendem bala. Jujubas, pra ser mais exato, e ele começou com aquele discurso bem ensaiado que fazem todos os garotos. Toma fôlego e fala com a vozinha empostada: "Pessoal, eu tou aqui porque tenho doze irmãos em casa, minha mãe não pode trabalhar porque está doente, pessoal. Meu pai morreu e, por isso, tou vendendo essas balinha aqui, baratinho, pessoal. Cada uma por cinquenta centavo, três por um real, pessoal. Por favor, pessoal, eu preciso ajudar a minha família. Quem não quiser comprar, qualquer ajudinha serve também. Aceito vale e tickets também. Brigado, pessoal...", ou algo parecido com isso e foi passando distribuindo as jujubas, depois voltava recolhendo.
"Ah, que história tocante... Mas e daí?", vocês devem estar se perguntando. Bem, acho que todo mundo já viu esse tipo de coisa acontecendo, mas e se eu dissesse que antes do garoto entrou um cara pedindo dinheiro? E se eu dissesse que depois do garoto ainda vieram duas crianças vendendo pipoca Bokus, carregando um saco delas enorme nas costas? E se eu dissesse que eu fiquei menos de dez minutos no ônibus? Pois é, então considerem isso tudo dito.
Puxa, esse negócio de pedir dinheiro tá virando uma espécie de emprego. Deve haver uma cooperativa, um consórcio, sei lá. Há um chefão, claro, que define os percursos mais feitos, que escreve os discursos, que está por trás das contratações e todo o resto. Claro que é um negócio clandestino, e por isso mesmo deve ser bem lucrativo, não paga impostos e nem precisa subornar ninguém. Será que ninguém ninguém ainda notou que os discursos são praticamente iguais, desde os motivos até a forma como eles falam? Eu ouvi umas três crianças dizendo "pessoal" naquele dia, e parecia até que os garotos haviam sido treinados pra falarem daquele jeito.
Existem várias formas de pedintes. Os que oferecem algo e os que apenas lamentam a vida. Tem aquele cara que está em todos os lugares, de igrejas a shoppings, segurando um papel - diz ele ser uma receita médica -, falando da filha que está com câncer, tétano, aids, hepatite do alfabeto todo e esquizofrenia aguda. Tem as loucas, que ficam babando nas pessoas e empurrando até que o indivíduo incomodado lhe dê dinheiro. Tem as famílias unidas, que vão de casa em casa com o rosto queimado de sol e aceitam "qualquer coisinha que o sinhô puder dá...". Os que vendem normalmente vêm com um discurso preparado. Para eles é uma questão mais profissional, e o tom de voz é quase impessoal. O outrora costumeiro "Deus lhe pague" virou só um "hum!", que você não sabe se é agradecimento ou desdenho. Isso não quer dizer que eles não queiram expor sua vida pessoal a você, esfregá-la na sua cara como se fosse culpa sua e fazê-lo se sentir culpado pela vida desgraçada deles. E por último há aquele que não vende nada, mas também não conta uma história de vida triste e melodramática. O primeiro desses seres lendários que não achavam humilhante pedir dinheiro, pois essa era sua vocação, criou o discurso tão famoso: "Eu podia tá roubando, podia tá matando, podia tá estrupando sua filha, mas não, eu tô aqui pedindo uma ajudinha. Qualquer coisa serve. Aqueles que não puderem ou não tiverem, obrigado pela atenção. Tenham uma boa viagem."
Bem, a isso se resume uma grande parte do fantástico mundo dos mendigos. Sempre achei interessante a forma como eles se organizam, e acho que daí poderia brotar um belo trabalho antropológico, ou não. Para terminar, gostaria de dar uma dica para vocês, por experiência própria: nunca - eu disse NUNCA! - discuta com uma pessoa dessas no ônibus. Senão entra na briga o cobrador, o motorista, aquela senhora bem severa, que adora falar com o cobrador como se ele fosse um sobrinho e trata todo mundo como neto, enfim, quase todas as pessoas que consideram um ônibus seu segundo lar.

Wednesday, April 23, 2008

Guerra em ...


A extraordinária e maravilhosa universidade de mímicos tem uma tradição milenar de batalhas, duelos e disputas entre seus pupilos que a torna um dos cursos mais requisitados e temidos de toda história da enceneção abstrata. Não que hajam outras faculdades de mímicos famosas, ou mesmo outras faculdades de mímicos no mundo, mas isso é pura retórica, e um mímico não se humilha com discussões.
Esse templo do saber é localizado em um beco de Paris, no centro, para onde convergem os mais nojentos cafés literários, pintores pobres e qualquer outro tipo de artista fracassado de renome. Lá se encontram os maiores talentos da "arte de Mimos", como não dizem os mímicos. Infelizmente, existe pouco espaço no mundo da arte para esses nobres pseudo-atores em preto e branco, por isso a concorrência tão acirrada os fazem cometer as piores atrocidades. Certa vez, Hum-hum e Clap!, dois mestres da arte de Mimos, tiveram uma discussão durante o desjejum por causa de um croissant imaginário que uma menina deu para eles. Clap! era da velha escola, e portanto o protocolo exigia que Hum-hum cedesse a ele a primeira apresentação. Hum-hum, porém, cansado das condições precárias de trabalho e daquela hierarquia idiota, resolveu criar uma revolução, e prendeu Clap! numa caixa. Hum-hum, porém, não contava com a audácia de seu adversário e, em uma jogada inesperada, Clap! criou uma porta, saiu e deu um tapa estrepitosamente silencioso a três metros de Hum-hum.
A contenda foi se elevando a tal nível que a universidade entrou em guerra; os alunos de Clap! se prepararam criando barricadas às apalpadelas e carregando suas bazucas imaginárias. Mal sabiam eles que Hum-hum e seus comparsas armavam uma trama diabólica para assassinar Clap! e derrubar o antigo regime mímico. Em conjunto, os alunos de Hum-hum enceneram uma das mais famosas histórias jamais encenadas na história da arte de Mimos, "A batalha de Mimos e Argh". Nessa história, Mimos e Argh, os fundadores da escola, tiveram uma disputa pelo poder. E está no livro jamais escrito dos mímicos que só duas pessoas podem encenar essa história, e aquele que encenar Mimos nunca mais poderá encenar nada. Por essa razão, ninguém jamais teve coragem de encená-la, ninguém jamais sequer ousou. Ninguém jamais sequer ousou ousar. O único que tentou fazer isso foi expulso pela escola e se mudou para uma fazendinha na Espanha, onde tem um rebanho de ovelhas que se chamam Número 23. Ninguém jamais soube o nome dele(talvez porque ele nunca o pronunciou), portanto consta dos arquivos que ninguém encenou essa batalha.
Astutamente, os alunos de Hum-hum fizeram o prólogo da história, explicando os detalhes por meios de mímicas incompreensíveis mesmo entre eles. E fizeram a apresentação do vilão Argh, com gestos macabros e insinuantes, e nesse momento entrou Hum-hum triunfante. Clap! entrou numa espécie de apatia surpreendente, logo ele que abordava todos sempre com sua simpatia alegre e tremendamente irritante. Mesmo assim, quando os rebeldes fizeram a sua apresentação de herói da forma mais desdenhosa e épica, ele entrou. Acontece que Clap! era um conservador, e para ele as regras estavam acima de tudo, até mesmo de seu lugar entre os mímicos.
No entanto, antes que Hum-hum fizesse o primeiro gesto da batalha, "a cuspida da traição", Clap! tomou a frente e fez a reverência. Todos os mímicos da rua pasmaram diante do gesto, que tinha dois significados possíveis: ou Clap! estava admitindo sua derrota frente a Hum-hum, e nisso era no que a maioria estava disposta a crer, ou então era outra coisa. Acontece que existem duas formas de interpretar uma mímica: o seu significado real, aquilo com que o gesto parece quando é esboçado, como uma mancha no vidro que parece um santo, ou o outro significado. O outro significado pode ser exatamente qualquer outro significado, afinal não estamos falando de uma ciência exata aqui. E era nessa dúvida que todos estavam, pois ninguém, nenhum daqueles idiotas vestidos em tons monocromáticos, sabia os detalhes d´A Batalha de Mimos e Argh.
O suspense foi demais para Hum-hum, que em desespero e mutismo extremos, subiu o indicador até a cabeça e acionou o gatilho de polegar. Todos os companheiros de revolução o acompanharam, alguns enforcados, outros envenenados e houve até um, ousado, que mergulhou de cabeça da calçada para a sarjeta. Em festa, os vencedores da guerra levantaram suas mãos abertas e balançaram no ar freneticamente, o gesto caracterísco de Clap!. Até que uma senhora, muito gentil e descuidada, apareceu com um croissant de verdade naquela rua faminta.

Friday, April 04, 2008

Crônicas De Quase Apocalypse(ou Dossiê Ratos)


Eu fui encontrado no verão de 1873 por inspetores de saúde, vagando delirante pelos esgotos de Londres e balbuciando:
- Robustos ratos falantes, cavalheiros...
Desde então muitas coisas aconteceram.
Eu fui usado no fim daquele século como negociador diplomático das relações políticas entre Londres Superior e Londres Inferior. Alguns eventos desastrosos dessa relação dos homens com a espécie ratum sapiens sapiens foi causada pela recusa do primeiro-ministro em fornecer escravos humanos e quantidades absurdas de queijo, mas tudo se manteu estável, até a virada do século.
Um dos eventos mais famosos que resultaram dessa relação conturbada culminou no que ficou conhecido mais tarde como "Primeira Guerra Mundial". Após a dominação completa da Inglaterra pelos roedores ardilosos, os E.U.A.(Emirados Unidos Árabes) perceberam a ameaça significativa e iminente que eram os ratos. Então, usando um projeto roubado dos alieníginas que acampavam em férias no Deserto de Mojave - a bomba H -, exterminaram todo e qualquer rato e varreram do mapa não só a Inglaterra, mas todas as ilhas da Grã-Bretanha e uma parte do Pólo Norte. Tudo que veio depois e foi chamado de "cultura inglesa" é mentira, inclusive Beatles. Reveja sua interpretação de Let it Be.
E aqui termina a história extra-oficial dos ratos.




E aqui começa a história extra-extra-oficial dos ratos: antes que o império islã atacasse a Inglaterra, os roedores arquitetaram um plano de dominar o mundo. O estrategema consistia em criar enormes e incrivelmente extensas galerias subterrâneas que os ligassem a todas metrópoles do mundo; depois elevar suas taxas de natalidade a níveis exorbitantes e dominar o mundo, o transformando numa grande fábrica de derivados de leite. Felizmente(para nós, não para os malignos hamsters), eles não tiveram tempo de chegar nos 50 bilhões de ratos desejados, e o plano fracassou com a invasão da bomba de Allah. Mas não se engane! Eles conseguiram escapar para as outras cidades, se espalharam pelo mundo e estão esperando o momento certo. Espreitam maliciosamente dos bueiros, aguardando o momento em que o mundo será deles, finalmente...

Sunday, March 23, 2008

Diário de um adolescente de boné(Parte...qual mesmo?)

Já perceberam o quão inútil é assistir Big Brother? Melhor, já perceberam quão inútil é discutir o quão inútil é assistir Big Brother? Virou moda nos programas de humor, digamos, inteligente. É como se você ganhasse uns 15 pontos de Q.I. se dissesse: "Odeio Big Brother" ou "Pedro Bial é um idiota". Não que alguém precise dizer que é a maior alienação do mundo assistir pessoas vivendo trancadas em uma casa sem fazer nada, exceto discutirem umas com as outras pelos motivos mais fúteis. Só é menos alienado que escutar as citações afetadas e aleatórias de Pedro Bial antes da eliminação de algum participante.
Eu estava assistindo Pânico na TV, que eu considerava um dos únicos programas de auditório bons do mundo, quando eu percebi que ele é só mais um programa apelativo e chato, com piadinhas toscas. Aquela porcaria de quadro do Vesgo e Sílvio. Piadinhas toscas boas, mas mesmo assim... Ai, ai, bons tempos aqueles em que se assistia Chaves sem se preocupar. Hoje só os desenhos do Pica-Pau me salvam. Alguém aí assistiu Tv Globinho ultimamente? Cara, Yugi Oh é um desenho macabro, bizarro, alucinado, totalmente anti-cristão. Como é que eles colocam aquilo pras crianças assitirem? Cheio de rituais, pentagramas desenhados no chão, diálogos com espíritos, é quase uma sessão de descarrego. Não que eu eu tenha alguma coisa contra sessões de descarrego, eu até admiro o lado teatral delas. Só acho que violência gratuita é mais aceitável do que aquilo, como em Cavaleiros do Zodíaco. Acho que nem passa mais Sítio do Pica-pau Amarelo antes, pra dar uma amenizada. Se bem que eu sempre considerei o Monteiro Lobato um pedófilo, com aquela monocelha e o olhar obscuro. Opinião pessoal.
Hum, acho que é só mal-humor mesmo. E para não contagiar vocês, com licença.
=]

Saturday, March 22, 2008

Girassóis


A vida - ou infinita vida - de Louis sempre foi uma sequência de enganos. Por exemplo, seu próprio nome, que é feminino, e ele nao é; Seu pai nunca foi seu pai; Ele é mais velho cinco anos do que esperava; Nunca foi terráqueo e jamais, em hipótese alguma, mortal.
Todas essas desilusões fizeram de Louis uma pessoa, ou ser pandimensional hiperinteligente, um pouco, só um pouco, infeliz. Quando descobriu que seu pai não era seu pai, entendeu que sua vida não era o mar de rosas que esperava, mas tudo bem. Enquanto sua mãe, que era realmente sua mãe, lhe explicava que ele era cinco anos mais velho do que tinha dito durante esses trinta e dois anos, se consolou pensando que isso era aceitável, e finalmente entendeu porque se sentia tão deslocado das outras crianças. Mas quando ela lhe contou que ele era de outro planeta e, o pior, imortal, nao pôde suportar e começou a chorar.
Qualquer pessoa iria se surpreender, mas a mãe de Louis conhecia suficientemente bem o filho para entender o motivo da choradeira. Os imortais, aquela raça raríssima e babaca que vivia pelo universo como uma espécie de parasitas irritantemente solenes, sabiam como lidar com essa coisa de viver para sempre. Para eles, era como saber que nada podia atingi-los, principalmente porquê eles não podiam ser atingidos, tudo por causa de uma complexa emenda constitucional, cheia de parágrafos e artigos, instituída por um imperador universal imortal - aprovada principalmente pelo medo dos parlamentares de se instituir uma ditadura, por assim dizer, eterna. Os imortais eram a escória do universo. E adoravam.
Só que Louis não foi preparado pra isso, já que seu pai verdadeiro o havia abandonado sem o ensinar como ser um perfeito canalha. E Louis nunca poderia imaginar como gastar tanto tempo livre como a eternidade. Já se matava pra passar os dias tediosos depois que terminava as tirinhas do jornal. E essa era uma coisa que não poderia mais fazer, isso de se matar.
O tempo passou, lento, lento, lento. E Louis percebeu que não envelhecia, não conseguia sequer fingir uma espécie de dor nas costas ou esquecimento. Nem mesmo o desespero, tão esperado, do tempo passando e a nostalgia inevitável vieram, até que ele desistiu de tentar ser mortal. O negócio era pesquisar sobre o assunto.

Louis descobriu que muitas pessoas queriam ser imortais, e descobriu as opiniões delas a respeito. Muitas delas falavam em adquirir todo o conhecimento do mundo. Ele fez isso nos dois primeiros séculos. Descobriu algumas novas leis da física e subverteu algumas. Depois de muito pensar, após algumas décadas, descobriu que a gravidade era apenas um conceito vago, como a própria mortalidade. E quando descobriu isso, como que por mágica, começou a voar a alguns centímetros do chão e sentiu suas entranhas flutuarem. A sensação desagradável o fez discordar da própria teoria, e suas entranhas se reordenaram com o peso.

Com o passar dos anos foi se cansando de aprender, e decidiu se tornar tão promíscuo quanto uma pessoa pode ser. Experimentou, como em um rodízio de sorvete, todas as doenças sexualmente transmissíveis, seus sintomas e sequelas. Durante um breve período se divertiu de uma maneira um pouco bizarra com a sífilis, mas logo desistiu disso também.

Após completar seu primeiro milênio, se cansou verdadeiramente daquilo. Então decidiu que, a partir de agora, sua meta era descobrir um meio de morrer. Começou com um teste prático, se matando. Primeiro se enforcou; depois cortou os pulsos; ingeriu dois vidros de calmantes; pulou de um precipício enquanto queimava com Napalm e atirava com uma magnum na cabeça, mas nada deu certo. Sempre seu corpo acordava regenerado e ele recordava vagamente de uma dor lacinante. Então se decidiu por um método mais filosófico. Descobriu que para matar um deus só precisava fazer com que perdessem a fé nele, mas ele não era um deus. Leu em um grimório antigo, com capa de couro vermelho e cheia de inscrições rúnicas, que para matar um animal mítico, uma quimera de leão, serpente e grifo, precisaria dum chifre de unicórnio. Descobriu que se matasse a águia de Prometeu, ele morreria no dia seguinte. Enfim, descobriu muitas formas de matar coisas aparentemente imortais, mas nenhuma que o matasse. Até que completou seu segundo milênio e, mais uma vez desiludido, desistiu.

No seu duomilionésimo primeiro dia de vida, fez um esforço supremo para ter uma idéia original, qualquer coisa que não tivesse feito pelo menos 400 vezes antes. Depois de muito pensar, com um esforço infantil, falou gaguejando:

- Por que não... pirar?

Ficar maluco, essa era a solução desde o começo. Apressadamente fez os preparativos: criou teorias da conspiração; encenou peças famosas jamais escritas; conversou, compactuou e bebeu chá com criaturas malignas e inexistentes. E, finalmente, enlouqueceu. No seu estágio final de loucura, imaginando que era Van Gogh, cortou a própria orelha para envia-la em pacote pelo correio à sua noiva, mas, achando que era pouco, cortou a outra orelha, o nariz e um grande pedaço da língua. Só que Van Gogh não era imortal. Depois de ir se amputando, parte por parte, quando já estava quase todo esquartejado, percebeu que não estava se regenerando, afinal, era realmente Van Gogh, e não um imortal. Então amputou a cabeça e a selou para sedex à cobrar.

Tuesday, February 26, 2008

Correntes 2

E essa corrente é da Cristal.
É pra eu dar "selos" pra os cinco melhores blogs que eu conheço. Ou que eu mais acesso.
Bem, tinha o rox, mas ele foi desligado por pura preguiça de seus autores... Então vão esses. Desculpa por não colocar umas descrições, mas eu estou meio sem tempo no momento.

http://www.cocadaboa.com/

http://www.universonirico.blogspot.com/

http://www.malvados.com.br/

http://www.resmungando.blogspot.com/

...e o quinto seria o Rox Entretenimentos. Mas eu também vivo acessando o blog de Cristal, de Aline e da Joice.
o/

Monday, February 25, 2008

Correntes

Ai, ai, começaram as correntes de blog. Tava demorando... mas como eu não tenho vontade própria mesmo, vamos lá.
Essa é do blog da Aline Juliete and the Licks. Ela pediu pra eu responder cinco perguntas. Eu adorei o jeito simples e alegre com que ela respondeu, por isso vou responder da forma mais adequada à tanta felicidade. Ah, Srta. Cristal, da próxima vez eu posto a sua corrente, ok? Bem, então vamos lá?


1 - Que cheiro tem seu corpo?
Pergunta altamente sugestiva, provavelmente criado por um pervertido que não faz outra coisa exceto ficar no computador, imaginando relações sexuais com mulheres que nunca vai ter. Pra esse pervertido: meu corpo tem o mesmo cheiro da neve. Vai lá procurar neve pra ver qual o cheiro...

2 - Que sonhos alimentam seu coração?
Quase vomitei agora. Eu diria que pookas e redcaps, mas ninguém entenderia. Acho que o de chegar aos quarenta fazendo o mínimo possível de esforço físico, depois publicar um livro(publicar somente, escrever é muito cansativo) e ganhar muito dinheiro pra morar em Fernando de Noronha.

3 - Porque a vida muda de uma hora pra outra?
Porque ela é indecisa. Isso é coisa para os filósofos, mas eu diria que nada muda na minha vida, exceto o fato de eu ficar mais velho. Ah é, uma vez eu assisti um episódio legal de pica-pau. Uma vez.

4 - Porque pessoas vêm e vão?
Porque elas têm pernas(tou começando a me arrepender de ter começado a responder). Olha, agora eu vou dar uma de romântico e dizer uma daquelas coisas bonitas que se colocam na legenda das fotos no orkut: as pessoas primeiro se tornam suas amigas; depois elas vêem o que você tem para oferecer; depois sugam o máximo que podem de você, e quando acabam te abandonam. Essa é a vida, e todo mundo tá fudido no final. Eu sei que é meio pessimista, mas é a verdade.

5 - Porque complicado vem antes do simples?
Shakespeare disse: "Sendo o fim doce, não importa que o começo amargo fosse". Eu não confio em Shakespeare, mas se você quiser acreditar...
Mas pensando bem, seja otimista: no final das contas, quando você tiver na merda e tudo o mais, pensando que nenhum amigo vai lhe ajudar a sair dessa, e começa a pensar que seu sofrimento vai ser eterno, vem a morte e tudo acaba. \o/

=D

Monday, February 18, 2008

Hamburguer de Golfinho(ou tarados...(ou umbigo))


O tarado da rua quinze não é um tarado qualquer. Ele é mesmo muito gentil, sabe? Só ataca senhoras a partir de 50 anos, aquelas que não transam faz tempo ou porquê são viúvas, ou porquê são desfavorecidas visualmente falando. E antes disso ele pede "por favor" e "com licença", e nunca(jamais!) sem o consentimento delas.
Tecnicamente não é estupro se você tem permissão. Mas as opiniões moralistas insistem que não é certo que mulheres como essas trepem. É errado e inadmissível, dizem eles. Portanto ele é o tarado da rua quinze.
O tarado da rua quinze é um rapaz de 28 anos que, de acordo com todas as pistas até agora divulgadas, mora na rua quinze. O complexo sistema criminal e burocrático não permite que se façam acusações sem evidências contra o acusado, mesmo que todas as vítimas já tenham dito qual é o endereço do tarado. E mesmo que elas continuem visitando o tarado pedindo bis. E mesmo que o tarado já tenha se declarado o tarado da rua quinze, o maníaco sexual da rua quinze e tantas outra alcunhas da rua quinze.
A rua quinze não tem outros tarados. Aliás, há um beagle que já abusou sexualmente de inúmeras pernas, mas tirando isso nada. O tarado da rua quinze não tem fetiches por partes anatômicas específicas, mas uma mulher de vestido comprido, bíblia e rosário na mão e bem enrugadinha é algo que, nas suas palavras, tira qualquer homem do sério.
Há estudos psiquiátricos em andamento para explicar o porquê de tal comportamento. Os mais renomados estudiosos da área afirmam categoricamente que "Froid explica!...". Não se sabe exatamente o quê ele explica, mas é consenso geral que ele explica alguma coisa. Eles não tem nem certeza se o que ele explica é relacionado com o caso, mas isso não importa enquanto a frase de efeito durar.
Enquanto isso, o tarado da rua quinze continua com suas peripécias sexuais mundo afora...



Em homenagem carinhosa e violenta ao Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet.

Friday, February 15, 2008

Anansi


Anansi é o deus-aranha da trapaça. Se você olha para um deus, ele vai parecer com a sua raça, ou seja, no nosso caso vai parecer um cara estiloso de jaqueta de couro, sorriso irônico e andar de malandro. Mas estranhamente você vai pensar: esse cara parece... uma aranha. Sei lá o quê nele parece uma aranha, mas parece pacas.
Bem, ele gosta de sacanear os outros. Mas certo dia, quando estava bêbado demais para um homem e até mesmo para uma aranha, ele resolveu zoar o cara errado: um dragão. O dragão não gostou muito da brincadeira, e por isso resolveu queimar Anansi, literalmente. Anansi estava realmente enrascado, mas isso não é novidade para um deus da trapaça. Anansi resolveu que se queimar não era tão divertido, e criou um estrategema para se livrar do dragão:
-Olha aê, seu dragão, do que é que você tem mais medo nesse universo?
-Ha há... eu não tenho medo de nada nesse universo, Deus-aranha. Eu sou um poderoso dragão vermelho ancião. Há poucas coisas que podem me matar.
-hum... quer dizer que você tem medo de nada, certo?^
-Eu... - o dragão coça a cabeça escamosa, confuso - é. Eu tenho medo de nada.
Anansi dá um risinho divertido e coloca a mão no bolso direito da jaqueta. Achou exatamente o que procurava:
-ah, seu dragão, sabe o que eu tenho nesse bolso aqui?
-Não, Anansi...- o dragão começa a ficar com medo - o que há no seu bolso?
-Nada!
-Ah, sabe Deus-Aranha, eu lembrei agora que eu tenho um compromisso. Depois a gente continua, ok?
Então o poderoso dragão vermelho ancião bateu as poderosas asas e foi embora. Anansi deu um risinho e foi-se embora.
Dragões não são muito espertos.

Saturday, February 02, 2008

Joe, um cara normal.


Joe é um cara normal, com uma vida normal, gostos normais, idéias normais, enfim, ele é um cara bem chato, mas se você o conhecer bem, muito bem mesmo, vai perceber que na verdade ele é tudo o que aparenta ser. Se Joe fosse transformado em uma monstruosa barata gigantesca, essa barata seria tão normal e comum que você, ao vê-la, diria com simplicidade: "Ah, é só o Joe!"
Joe tem uma noiva. Os caras que se apaixonam ou se desesperam acabam casando; os que se divertem tem namoradas, ficantes, amantes; mas Joe é um cara normal, por isso ele tem uma noiva. Essa noiva se chama Lascívia. Ela é ninfomaníaca, sado-masoquista, necrófila e tem uma criação particular de Rotweillers reprodutores, cães enormes e negros que mais se parecem com pôneis bem desenvolvidos. Ela diz que os acha "tão poderosos...". Lascívia nunca dormiu com Joe. Além dele ser de uma família ortodoxa cristã, ela não vê nele a ambição e o poder que um homem merecedor dela teria. Ela não vê essas características em Joe porque ele não as tem, obviamente.
Ele não se importa com essas coisas, só quer ter o seu emprego de gerente júnior de um supermercado, ganhar aumentos anuais e se aposentar com um belo plano de previdência, para poder pescar e relaxar o resto da confortável velhice. Joe planejou toda a sua vida aos 13 anos de idade, e desde então uma calma profunda e permanente tomou conta de sua alma. Tudo vai indo bem até agora. Ele nunca brigou, nunca lutou por uma causa, nem sequer teve um sonho inalcançável. Esse é o Joe, e provavelmente não vai mudar nunca, nem que uma bomba caia em cima dele.
Certo dia glorioso em que os passarinhos cantavam, o sol brilhava alegremente e Joe ainda sonhava com rosquinhas recheadas de geléia de goiaba, uma bomba colossal e megadestruidora caiu na casa dele. Então ele morreu. Antes de morrer, porém, ele teve dois pensamentos:
a)Será que existem rosquinhas sem cobertura e recheio?
b)Por que tudo está sendo destruído e como eu estou percebendo isso se eu estou dormindo?
Nenhuma resposta pro Joe, nenhuma resposta pra nós. Todos lamentam. Então Joe foi para o céu.
Lá haviam várias filas e guichês de atendimento, a maioria lotados. Um cara de barba branca, alto e carrancudo, com um crachá dizendo Pedro e uma foto ridícula, passou gritando:
-Católicos na fila da esquerda. Budistas na do meio e protestantes na da esquerda. Demais religiões venham comigo, exceto os satanistas. Todos os adoradores de Lúcifer e/ou sub-demônios desçam pela escada, por favor.
Joe achou que era o momento que era o momento de se manifestar, mas como não sabia fazer isso apenas se dirigiu ao homem de barba branca:
-Com liçenca, eu vou pra onde?
Pedro se vira e diz:
-Você acredita no quê?
-Eu não sei se acredito em alguma coisa, senhor...
-É são, e não senhor. São Tomé! Ô Tomé, leva esse indeciso aqui.
Apareceu um cara de cabelos desgrenhados e olhos esbugalhados passando entre as filas, empurrando todo mundo. Ele pegou Joe pelo braço, fez um passinho de Tango e transportou os dois para um lugar vazio cheio de filósofos e altistas.
-Meu chapa, esse aqui é o Limbo. Aqui ficam os caras tipo você, que não são nem cá, nem lá, ok? Beleza, então. Boa sorte aê, brother!
E depois de dizer essas palavras, Tomé, ou São Tomé, ou Tom pros íntimos, fez a dancinha do robô e escafedeu-se.
Joe ficou lá o resto da eternidade e adorou. Ele não podia pescar, mas podia ficar tediosamente sozinho por centenas de anos. E se queria ter uma conversa estimulante, era só chamar um daqueles filósofos e bater um papo. Só ficou pensando no que teria acontecido com Lascívia.
Bem, ela se deu bem. Por coincidência, ela tinha feito um seguro de vida em nome de Joe. E quando aquele triste atentado contra seu noivo aconteceu, ela levou uma bolada e se mudou com sua criação de Rotweillers para uma ilha na Polinésia, onde poligamia inter-espécies é permitida por lei.

Sunday, January 27, 2008

Saco de Rede Vida...


Ultimamente têm sido transmitidos muitos programas religiosos ou é só impressão minha? Será que isso tem algum significado especial, ignorado por todos até agora? Será que isso é uma espécie de sinal do fim dos tempos, o Armagedon, Apocalypse Now, Ragnarok, ou qualquer outro RPG adventure que trate do fim do mundo? Ou será que é simplesmente fruto da nova política econômica, em que a religião é o negócio mais fácil e lucrativo? Mais fácil porque não paga imposto; mais lucrativo porque você um promete um céu que não vai dar, uma vida eterna que é garantida por outro cara e a justiça feita por um senhor que nunca viu.
Pensem comigo, você só precisa ter uma cara de homem sério pai de família para ser um pastor, ou então de Matusalém semi-morto para ser um bom padre. Será que uma beata se apaixonaria por um hippie de bermuda jeans, fala mansa e promessa de felicidade pra agora? Elas querem mais é amar uma múmia e serem felizes na próxima vida; afinal, é muito mais fácil adiar a felicidade do que tentar e fracassar. E se algum fanático(a) quiser cometer um atentado contra esse pagão, pode vir, eu moro no condomínio Parque do Flamengo e meu nome é Vitor Alcântara... >DDD
Qualquer dia desses, quando um certo bispo de uma igreja(universal do reino de deus) comprar todas as emissoras de tv, começar a fazer lavagem cerebral e o sexo for abolido totalmente, não venham se queixar. Exagerado, eu?! Tá, mas ficar esfregando o manto vermelho que cura lepra, o óleo milagroso que cura câncer e a maratona de fé que cura viado pode, né?

Thursday, January 24, 2008

A Festa...


A mais longa e destrutiva festa já realizada está agora em sua quarta geração e, ainda assim, ninguém dá sinais de querer sair. Certa vez alguém olhou para o relógio, mas isso foi há 11 anos e a coisa parou por aí.
A bagunça é extraordinária, algo em que você só acreditaria vendo, mas, se você não tiver nenhuma necessidade específica de acreditar, melhor não ir, porque você não vai gostar de lá.
Recentemente houve alguns estrondos e luzes em meio as nuvens e surgiu uma teoria de que fosse uma batalha em andamento entre frotas de diversas empresas rivais de limpeza de carpetes que sobrevoam a festa como se fossem urubus, mas não se deve acreditar em tudo o que se escuta em festas, sobretudo não nas coisas que se ouve nessa festa.
Um dos problemas - e um que obviamente só vai piorar - é que todas as pessoas na festa são filhos, netos ou bisnetos das pessoas que não saíram de lá no início de tudo e, por conta de todas aquelas baboseiras sobre seleção natural e genes recessivos, isso significa que todas as pessoas que estão agora na festa ou são fanáticos por festas ou completo imbecis ou - o que é cada vez mais frequente - ambas as coisas.
De qualquer forma isso significa que, geneticamente falando, cada nova geração está menos propensa a sair do que a anterior.
Há outros fatores que entram em cena, tal como, por exemplo, quando é que a bebida vai acabar.
Bem, por conta de algumas coisas que ocorreram e que pareciam uma boa idéia na época era que a festa deveria decolar não no sentido comum em que dizemos que as festas devem decolar, mas no sentido literal.
Certa noite, tempos atrás, um bando de astroengenheiros da primeira geração, bêbados, construiu o prédio de um lado para o outro, cavando isso, instalando aquilo, batendo fortemente naquilo outro e, quando o sol se levantou na manhã seguinte, ficou surpreso ao se descobrir brilhando sobre um prédio cheio de pessoas bêbadas e felizes que estava, naquele momento, flutuando como um pássaro jovem e incerto sobre as árvores.
Não apenas isso, mas a festa voadora também tinha conseguido se armar fortemente. Se por acaso se metessem em discussões mesquinhas com vendedores de vinho, queriam ter certeza que a força estaria do lado deles.
A transição entre uma festa em tempo integral para uma festa de pilhagens em tempo parcial foi algo natural e ajudou bastante a acrescentar um pouco de emoção e aventura à coisa toda, o que era importante naquele momento por conta das infindáveis vezes que a banda já tinha tocado todo o seu repertório ao longo dos anos.
Eles saqueavam, eles pilhavam, eles mantinham cidades inteiras como reféns em troca de um novo estoque de biscoitinhos de queijo, pasta para os biscoitinhos, costeletas de porco, vinho e outras bebidas alcoólicas, que agora eram bombeadas a bordo vindas de tanques flutuantes.
O problema de quando é que a bebida vai acabar terá, contudo, que ser abordado algum dia.
O planeta sobre o qual estão flutuando já não é mais o que era quando começaram a flutuar sobre ele.
Está em péssimo estado.
A festa já tinha atacado e saqueado quase tudo nele, e ninguém ainda tinha sido capaz de atacá-la de volta por conta da forma aleatória e imprevisível com que ela se movimenta no céu.
É uma festa do cacete.
Também é uma cacetada ser atingido por ela.
Texto extraído d´O guia do mochileiro das galáxias.