Wednesday, June 11, 2008

Recorde

Eu estava verificando postagens antigas quando percebi uma coisa aterrorizante: tem post pra caralho nesse blog. Então eu fui ver em quantas ia e descobri algo ainda mais aterrorizante(toca a musiquinha com eco de Jason 3): faltam cinco ou seis posts para esse troço chegar a marca dos cem. Putz, como eu consegui perder tanto tempo aqui? Pior, como as pessoas conseguiram me aguentar até agora?! Ei, obrigado por tudo, mas eu acho que não vou mais aperrear vocês aqui, até porque se chegar nos cem vai ter que virar uma coisa séria, eu vou ter que colocar um template decente, começar a corrigir o que eu escrevo e todas aquelas coisas que fazem os pseudo-escritores, os que acham o fato de possuírem um blog razoavelmente visitado motivo de orgulho. Como eu tenho muito medo de virar uma dessas pessoas, acho que vou parar por aqui. Ou então vou começar a apagar posts, o que for menos doloroso, hehe...
Bem, era isso. A história de baixo conta como um homem pode se desesperar por muito pouco(ou não, já que o lugar onde ele vive é totalmente destruído). Para quem quiser uma literatura de alto nível, eu recomendo Bukowski(eu nunca li, mas Netto "o Bob" Lins está lendo Misto-Quente e disse que é bom); agora para quem gosta de ler as porcarias escritas por mim e outras pessoas abstraídas da realidade-real-em-que-vivemos-contadas-por-nossos-pais-para-esconder-a-conspiração-alienígina-e-dos-suecos então divirta-se. And Remember, Remember, in the Fifth of November: "1 + 1"

Construçaõ(ou Buarque "O Padre Holandês Voador" da Chica)


(ou Geogre, Goerge, Gegore, Gogree...)

Certa manhã de abril, George acordou e percebeu que havia se transformado em um inseto monstruoso. Ah, não é verdade, é só que ele não tinha feito a barba ainda. Bem, depois de fazer a barba e tomar seu café, se despediu da esposa para ir ao trabalho e foi. Entretanto, quando ia tirando o carro, percebeu um pequeno detalhe: a última casa da rua - três casas separavam sua casa desta - havia sido demolida. No lugar da bela mansão havia agora um enorme morro de escombros. O fato o pertubou ligeiramente, pois era uma bela casa de três andares, uma piscina enorme e uma garagem com o jogo mais completo de ferramentas que já havia visto. Mesmo assim o dono resolvera destruí-la, provavelmente só para construir uma três vezes maior no lugar. "Esses ricos gostam de esbanjar...", resmungou George, mas era um comentário impróprio para ser feito, já que ele mesmo era um desses ricos. Ele entrou no seu Porsche novinho, sentindo o couro e o gosto doce de se sentir importante, até que seus pensamentos flutuaram para a futura casa do final da rua. Irritado, saiu da garagem rápido demais para que um dos vizinhos que ele mais gostava de irritar pudesse ler um adesivo na traseira do carro, que dizia: "Meu outro carro também é um Porsche", o que é absolutamente uma mentira.

Quando voltou do trabalho à noite, George perguntou para sua esposa se ela sabia alguma coisa a respeito da demolição, ao que ela respondeu com uma negativa. Isso era estranho, pois ela era especialista em conseguir informação íntima da vida das pessoas, uma futriqueira profissional, um dos motivos que fizeram George se casar com ela. "Bem, não deve ser nada de mais.", pensou, mas ele próprio não acreditava nisso.

No dia seguinte, George fez a mesma coisa do dia anterior, até chegar ao jardim com seu "segundo" Porsche. Dessa vez, para maior surpresa de George, estavam dois montes de entulho no final da rua, a última e penúltima casa demolidas. Dessa vez, ele realmente ficou nervoso; sentia que alguma coisa importante estava acontecendo e ele não estava participando. Provavelmente um grande investimento, e aquelas raposas que se diziam vizinhos não haviam contado com sua participação. Ele precisava saber o que era. Por isso, foi até o único vizinho com quem falava naquela rua - a antepenúltima casa, ao lado da casa demolida -, e descobriu, para sua maior surpresa de todas até agora, que havia um aviso na porta dizendo que ele havia viajado há duas semanas. "Merda, o que diabos está acontecendo?", e foi embora para o trabalho já estressado.

Depois do trabalho, refez a pergunta à sua esposa, recebendo, como era de se esperar, a mesma resposta negativa. Naquela noite, dormiu mal pensando na quantidade obscena de dinheiro que aqueles desgraçados estavam ganhando nas suas costas. Decidiu descobrir o que era, não importava o que tivesse que fazer.

No dia seguinte, saiu sem tomar café e sem se despedir da esposa. Deu a partida em seu Porsche, fazendo roncar o motor no ponto morto. Adorava fazer isso; dava uma sensação de poder absoluto, só não sabia que aquele motor era potente demais e, se continuasse a forçá-lo desse modo, algum dia iria fundí-lo, mas não hoje. Hoje, George iria descobrir que a casa do único vizinho com quem falava havia sido demolida também, e no lugar estava um morro ainda maior de escombros, pois era a maior casa da rua; era uma casa tão grande que podia abrigar uma pequena favela e ainda a família do dono, mas nada disso importava muito, pois aquele monte de entulho não abrigaria nem ratos agora.

George descobriu isso ao mesmo tempo em que um "Puta-merda!" tomava forma lentamente em seus lábios. É um mistério da vida, mas antes mesmo de ver ele já sabia o que o esperava, por isso não foi uma grande surpresa como nos dias anteriores. Desesperado, ele foi falar com o vizinho do lado. George não falava com o vizinho do lado, mas a situação era de necessidade emergencial.

A conversa não foi lá essas coisas. Foi algo como:

George - Bom dia!

Vizinho do lado - Bom dia...

George - Então...

Vizinho do lado - Sim?...

George - Você já percebeu que estão fazendo reformas por aqui?

Vizinho do lado - É mesmo? Hum... - aqui o vizinho olha para os lados mas sem olhar, apenas para confirmar a dúvida de George, o que é uma atitude bem estranha, na opinião de George.

George - É, pois é. Então é isso, só passei para saber se você já... havia tomado, quer dizer, hã... conhecimento. Bem, até logo...

Vizinho do lado - Até! - e o vizinho fechou a porta batendo na cara de George.

Na verdade, o autor acha que não foi nem mesmo uma conversa; foi mais como alguém falando com um espelho e fazendo "Aham" para suas próprias perguntas. Esse tipo de conversa é bem agradável para pessoas narcisistas e/ou esquizofrênicas, é quase como um ruído branco, mas não conta como troca de opiniões entre duas pessoas sensatas que existem. Bem, o importante é que George tentou conversar com todas as pessoas da rua, sem conseguir nenhuma informação útil. A maioria havia viajado, mas alguns, uns poucos, abriram a porta e tiveram o mesmo tipo de conversa anterior. Decepcionado, George foi para o trabalho sem conseguir descobrir nada.

Ao voltar, nem se dignou a perguntar nada a esposa. Na verdade, nem se dignou a falar com ela. Jantou e foi direto para o quarto que dava de frente para a casa do vizinho, a próxima a ser demolida. Uma coisa que havia acabado de notar é que ele não ouvia as casas serem demolidas, e quando a empresa responsável pelas obras chegasse, ele poderia perguntar alguma coisa a respeito.

Durante toda a noite George esperou, e durante toda a noite George nada viu, até que amanheceu sem a casa do vizinho ser demolida. De uma forma estranhamente feliz, George desceu para tomar o café, deu um beijo romântico (ou o que ele achava romântico) na esposa, que não retribuiu por ainda estar irritada por ter sido ignorada a noite anterior. Ele não percebeu nada, e isto, aliado a inúmeras outras vezes em que ele ignorou os sentimentos dela, fez o seu casamento virar uma percentagem de pensão num documento de divórcio, mas não hoje. Hoje George descobriu, ao retirar o "outro" Porsche da garagem, que as duas casas que ficavam depois da sua e uma da esquina do outro lado da rua da sua haviam sido demolidas. "COMO TRÊS CASAS SÃO DEMOLIDAS SEM EU PERCEBER?!". Não houve resposta para ele, mesmo pronunciando tão claramente as palavras, logo não haverá resposta para nós - todos lamentam. Entrementes, ele foi para o trabalho desanimado, o que fez receber a primeira reprimenda de sua vida, mas não a última, nem mesmo daquele mês.

À noite, sem jantar ou falar com a esposa, foi até o sótão e esperou, como um espião com seu binóculo, o momento em que chegariam os tratores. No entanto, já faziam duas noites que ele não dormia bem, portanto sua vigília só durou até às nove horas, quando ele apagou sobre o parapeito da janela do sótão.

No dia seguinte, desarrumado e com a barba por fazer, o farrapo-humano em que George havia se transformado foi ver o que havia acontecido lá fora. Antes percebeu que havia sido arrastado para o sofá da sala pela esposa, e não para o quarto como seria de se esperar. Iria perguntar o motivo disso, mas antes descobriria o que acontecera lá fora.

O sol brilhante cegou seus olhos, os passarinhos cantavam felizes e o vento soprava suavemente. Era sábado e todos estavam felizes, exceto George e sua esposa. Demorou um pouco para ele se acostumar com a claridade, mas ele já sabia, ele tinha certeza, não importava o que dissessem, do que iria ver. E o que viu não traiu suas expectativas: a sua rua, antes um conjunto residencial de alto nível com as mais belas casas que o dinheiro podia comprar, agora se resumia a muita poeira, entulho, concreto, madeira e tudo que formava aquelas casas caríssimas. Uma coisa era bem certa, se todo esse material de concreto, madeira, vidro, entulho e poeira pareciam bonitos quando juntos e em ordem, separados se assemelhavam a um desastre cataclísmico.

George nesse momento surtou. Foi um surto bem interessante, cheio de tremedeiras, palavras desconexas e até um pouco de baba. Após esse surto bem original, sua esposa achou melhor procurar uma ajuda psiquiátrica e um advogado, e nosso desafortunado personagem foi parar num sanatório particular durante alguns meses.

Quando voltou, completamente re-estabelecido e sano, foi levado vendado para casa às pressas. Durante meses ficou em casa trancado, com as janelas vedadas, muito sorvete e todas as temporadas de sua série favorita. Assim viveu tranqüilo, até que um dia - ou uma noite, ele não saberia dizer -, decidiu sair e ver o que havia acontecido lá fora.

Quando abriu a porta da frente, depois de remover tábuas pregadas e muita fita isolante, deu de cara com um armário de limpeza, cheio de vassouras e detergente, e uma outra porta depois. Intrigado, ele foi até a porta e a abriu também, não sem sentir um pouco daquela apreensão e nervosismo familiares se infiltrarem em seu espírito, logo detidos por uma dose cavalar de calmantes. Então abriu a porta e deixou a luz de lá fora entrar. E o que viu fez a dose cavalar querer fugir galopando por sua boca.

Lá fora as pessoas andavam para lá e para cá, entretidas demais olhando vitrines para se importarem com um gordão descabelado e a barba por fazer que acabara de sair do armário de limpeza. Além do mais, elas sabiam que esse tipo de coisa não acontece, principalmente em shoppings. O gordão olhou para tudo embasbacado por uns minutos, até que, com um suspiro resignado, fechou a porta e voltou para o sorvete e sua última temporada de Friends.

Sunday, June 01, 2008

A mais bela das artes perdidas(roubar um segredo).


Existem algumas pessoas que são naturalmente hipócritas. Algumas até sabem disso, e talvez se orgulhem de algum modo cínico. Entrementes, todo mundo é hipócrita durante alguns momentos na vida. Por exemplo, aquele filho que odeia o pai ou a mãe, ou ambos, mas que no dia das mães evita ao máximo falar mal com eles. Em qualquer outro dia ele quebraria o barraco, mas por ser dia das mães ele fica pianinho mesmo que a mãe diga que a namorada nova dele é uma vadia. Ainda que ela seja uma vadia, por que um data festiva criada por estudantes idiotas de marketing deveria governar as suas vidas? Ainda bem que no dia seguinte existe a doce e fria vingança.
Existem hipócritas interesseiros. Qualquer pessoa que um desses considere do seu nível ou inferior ele desrespeita, fala mal ou simplesmente ignora. Entretanto, quando esse tipo de pessoa vê alguém que lhe atrai, ou então uma pessoa que pareça de algum modo superior em intelecto, beleza ou simplesmente estilo, então essa pessoa o torna um ser mítico e lendário, um ídolo a ser adorado. Algumas dessas pessoas são irascíveis, mas se tornam bastante amigáveis quando há qualquer interesse.
Há pessoas que pensam que "faça o que eu digo, não faça o que eu faço" é uma espécie de filosofia de vida. Entre essas, muitos padres, freiras, pastores e afins. Mas entre esses também estão aqueles que sofrem diariamente quando outras pessoas lhe taxam por alguma característica específica, lhe denominando por: emo, puta, nerd, cdf, bicha, mas quando se trata de rotular outras pessoas se sentem bastante à vontade, esquecendo o quanto sofrem quando a brincadeira cruel é com eles. É claro que a memória é curta; é claro que todos temos o direito de sermos imbecis, mas é claro também que a única pessoa a quem podemos reclamar quando somos imbecis é nós mesmos.
Existem aqueles que não entendem pra quê serve se perguntar por que as coisas são do jeito que são. Eles acham que tudo sempre foi do jeito que é, e nada vai mudar nunca. Estas pessoas nasceram estáticas, já bastante idosas e nunca aprenderam nada de novo e interessante, exceto aquilo que estava empoeirado na prateleira mais ao alcance. Essas pessoas costumam admitir uma idéia genial, logo depois que todas as pessoas ao seu redor já o fizeram. Provavelmente só admitem publicamente que a terra é redonda, e guardam em segredo, no armário, um globo quadrado com a pangéia impressa em xilogravura.
E finalmente, mas não menos importantes, existem todos aqueles que são sinceros o tempo todo, mas só são os maiores hipócritas do mundo, porque na verdade estão mentindo o tempo todo. Eles acham que se tornam moralmente irrepreensíveis quando repreendem moralmente alguém, nunca imaginando que ninguém tem o direito de julgar seus iguais, exceto se fizerem isso para se divertir e explicarem esse detalhe para a vítima depois, da forma menos clara possível. Entenderam?