Thursday, October 23, 2008

"Pegue uma balinha"


Aquele chocolate está há mais tempo do que deveria naquele pote de vidro. Está há tanto tempo lá que em breve completará aniversário, e teremos que fazer um bolo de carne para que ele não se sinta ofendido. E o pior: eu não tenho a mínima idéia de como se faz bolos de carne.
O chocolate é tão antigo que já faz parte da família. Acredito que nós até tenhamos dado lhe dado um nome, mesmo que este tenha sido esquecido como o de primos ou tios distantes. Um pai distante jamais terá seu nome esquecido, mas basta que um primo não seja visto por oito meses para que se esqueça seu nome. Com um ano, até suas feições serão esquecidas completamente.
Esse chocolate, como ia dizendo antes de minha revolta me interromper, é tão idoso que perdeu o gosto para o plástico, mesmo o plástico não possuindo sabor algum que eu saiba. Talvez um residual gosto de petróleo, quem sabe?
Se você abrir o bombom agora, ele não fará aquele barulho de roçado do papel alumínio dobrado e esfregado, mas rangerá como uma porta de igreja e se desmanchará em pó no ar. Ou talvez ele gema um pouco e, faminto e confuso, já que há muito tempo passou do prazo para ser comido, pense que está com fome e me dê uma mordida no dedo. Eu me sentirei tão embaraçado com essa atitude do Mui Ancião Chocolatus que o jogarei assustado no chão da cozinha de vovó Palmira, e sairei de sua cozinha vermelho como um pimentão vermelho.