Saturday, May 24, 2008

Diário de... Adolescente... com amnésia... infinito... x1...4torradas...desculpamos inconveniente nos pelo


Eu estava indo para a escola quando notei uma coisa incrível e extraordinária, exceto pela parte do incrível e extraordinária. As mulheres não usam mais meias, ou é só impressão minha?... Bem, na verdade essa hipótese se baseia em algo anterior, o fato delas não usarem mais tênis ou qualquer calçado fechado, ou seja, só usarem sandálias sempre, não importa o evento social ou o local onde estão. Deve ser bem mais desconfortável pra aquelas que vivem andando por aí, pelo centro ou alecrim, ficar andando com essas sandálias que às vezes cortam o pé, ficam escorregadias, enfim. Mas parece que elas se importam menos com o próprio conforto do que com o modo como os camelôs vão olhar para elas. Ou talvez a sandália que compram seja mais confortável do que qualquer uma que eu tenha experimentado(se piadinhas de travesti aparecerem vocês vão ver...).

A partir daqui o post perderá um pouco de coerência textual, mental e metafísica...

O curioso delas não usarem mais meias continua a bater nessa mesma tecla, já que as meias também servem para o conforto(até porque aqui não faz frio). Ou talvez isso seja mais uma daquelas conspirações delas; talvez elas suem mais do que os homens pelos pés, e como não admitiriam isso nunca(provavelmente não é muito feminino), decidiram criar essa moda de sandálias para se safarem. Mas a mim vocês não enganam.

Bem, mudando um pouco de assunto, alguém já viu a revista do CEFET? Aparentemente ela foi criada por Armênio e amigos(o povo da juventude comunista, sei lá qual a sigla...). O nome dela é "Tá na Cara!", e quem quiser ler pode ir até a siciliano, sabe, lá na seção onde tem escrito revistas em cima. Agora, se bateu em você aquela vontade irresistível de fazer a piadinha óbvia: "Sim, mas qual é o nome da revista?", e eu responderia " Tá na Cara!", e você repeteria a pergunta e eu repetiria a resposta, até que eu me irritasse bastante e o defenestrasse, se contenha um pouco. Espere até esse post acabar.

A revista é bem bonita, sabe? Mas tirando uma reportagem sobre o centenário do CEFET, incluindo todos os nomes pelos quais foi chamada nossa querida escola de vagabundos, nada de muito útil. Tem uma crônica de Leon K. Nunes, com um conteúdo altamente político; um artigo feito por Poliana(esqueci o sobrenome) em homenagem ao mártire político Ernesto Guevara e outras coisas sobre quadrinhos. Quando eu vi no índice alguma coisa com Edgar Allan Poe, quadrinhos e blá blá blá me animei um pouco, até descobrir que era falando de um site onde se baixa HQs - site esse que eu conheço há mais de um ano. É claro que eu posso estar sendo um pouco cruel, o trabalho deles é derivado do esforço de muitos, como diz Armênio no Editorial(um clichê para revistas recém-fundadas), mas eu não gostei e tou falando do que não gostei. Mas o que eu esperava afinal? Ah, sei lá, quem sabe uma reportagem bombástica sobre abuso sexual por parte do diretor-geral, ou algo do genêro sensacionalista. A imprensa marrom é bem mais divertida do que a imprensa estudantil café-com-leite. Eu quero ver sangue...

O parágrafo anterior terminou de uma forma meio psicótica, então o post vai ser adiado um pouquinho. Eu assisti SpeedRacer essa quarta, com uma companhia um pouco inadequada para filmes de corrida. Mesmo assim gostei do filme, bem exagerado e tudo o mais. Com "tudo o mais" eu quero dizer efeitos de brilho, computação gráfica, explosões quase o tempo todo, falas clichês, até mesmo a cena romântica tinha efeitos especiais. O legal foi que eles deixaram um pouco dos efeitos parecerem com o visual do desenho, algo meio psicodélico dos anos 70, cenários e espirais em 16 cores(avançadíssimo na época). Seria mais legal ainda se quando eles brigassem aparecessem aqueles "Pow!", "Argh!", "Crash!" que haviam no desenho. Bem tosquinho mesmo. O filme é bem como o desenho, e é claro que o cinema tava lotado de crianças com seus pais saudosistas. Havia até um garoto que, durante o filme inteiro, fazia as observações críticas mais óbvias: "Ela ama ele?", ou "É o Rex, né?", ou no finalzinho "Ah, ele fez plástica." - essa última observação foi feita instantes antes da grande revelação, algo que quase me impressionou. Ah, eu devia ter dito para vocês não lerem esse pedaço se não assistiram ao filme ainda, mas eu não quis. Simples como uma torrada. Falando nisso!...

Thursday, May 01, 2008

Mendigos S.A.



Um dia desses, qual, na verdade, não importa, eu estava no ônibus indo para algum lugar, lugar este que também não tem importância alguma para a história. Como eu ia dizendo antes de me interromper, eu estava no ônibus e entrou, passando por baixo da roleta, um daqueles garotos que vendem bala. Jujubas, pra ser mais exato, e ele começou com aquele discurso bem ensaiado que fazem todos os garotos. Toma fôlego e fala com a vozinha empostada: "Pessoal, eu tou aqui porque tenho doze irmãos em casa, minha mãe não pode trabalhar porque está doente, pessoal. Meu pai morreu e, por isso, tou vendendo essas balinha aqui, baratinho, pessoal. Cada uma por cinquenta centavo, três por um real, pessoal. Por favor, pessoal, eu preciso ajudar a minha família. Quem não quiser comprar, qualquer ajudinha serve também. Aceito vale e tickets também. Brigado, pessoal...", ou algo parecido com isso e foi passando distribuindo as jujubas, depois voltava recolhendo.
"Ah, que história tocante... Mas e daí?", vocês devem estar se perguntando. Bem, acho que todo mundo já viu esse tipo de coisa acontecendo, mas e se eu dissesse que antes do garoto entrou um cara pedindo dinheiro? E se eu dissesse que depois do garoto ainda vieram duas crianças vendendo pipoca Bokus, carregando um saco delas enorme nas costas? E se eu dissesse que eu fiquei menos de dez minutos no ônibus? Pois é, então considerem isso tudo dito.
Puxa, esse negócio de pedir dinheiro tá virando uma espécie de emprego. Deve haver uma cooperativa, um consórcio, sei lá. Há um chefão, claro, que define os percursos mais feitos, que escreve os discursos, que está por trás das contratações e todo o resto. Claro que é um negócio clandestino, e por isso mesmo deve ser bem lucrativo, não paga impostos e nem precisa subornar ninguém. Será que ninguém ninguém ainda notou que os discursos são praticamente iguais, desde os motivos até a forma como eles falam? Eu ouvi umas três crianças dizendo "pessoal" naquele dia, e parecia até que os garotos haviam sido treinados pra falarem daquele jeito.
Existem várias formas de pedintes. Os que oferecem algo e os que apenas lamentam a vida. Tem aquele cara que está em todos os lugares, de igrejas a shoppings, segurando um papel - diz ele ser uma receita médica -, falando da filha que está com câncer, tétano, aids, hepatite do alfabeto todo e esquizofrenia aguda. Tem as loucas, que ficam babando nas pessoas e empurrando até que o indivíduo incomodado lhe dê dinheiro. Tem as famílias unidas, que vão de casa em casa com o rosto queimado de sol e aceitam "qualquer coisinha que o sinhô puder dá...". Os que vendem normalmente vêm com um discurso preparado. Para eles é uma questão mais profissional, e o tom de voz é quase impessoal. O outrora costumeiro "Deus lhe pague" virou só um "hum!", que você não sabe se é agradecimento ou desdenho. Isso não quer dizer que eles não queiram expor sua vida pessoal a você, esfregá-la na sua cara como se fosse culpa sua e fazê-lo se sentir culpado pela vida desgraçada deles. E por último há aquele que não vende nada, mas também não conta uma história de vida triste e melodramática. O primeiro desses seres lendários que não achavam humilhante pedir dinheiro, pois essa era sua vocação, criou o discurso tão famoso: "Eu podia tá roubando, podia tá matando, podia tá estrupando sua filha, mas não, eu tô aqui pedindo uma ajudinha. Qualquer coisa serve. Aqueles que não puderem ou não tiverem, obrigado pela atenção. Tenham uma boa viagem."
Bem, a isso se resume uma grande parte do fantástico mundo dos mendigos. Sempre achei interessante a forma como eles se organizam, e acho que daí poderia brotar um belo trabalho antropológico, ou não. Para terminar, gostaria de dar uma dica para vocês, por experiência própria: nunca - eu disse NUNCA! - discuta com uma pessoa dessas no ônibus. Senão entra na briga o cobrador, o motorista, aquela senhora bem severa, que adora falar com o cobrador como se ele fosse um sobrinho e trata todo mundo como neto, enfim, quase todas as pessoas que consideram um ônibus seu segundo lar.