Thursday, September 17, 2009

...que o diabo amassou

Eu sinto como se estivesse falando sozinho aqui, confirmando as sábias palavras do Sr. Thoreau. Entretanto, isso é até bom, já que eu posso falar praticamente qualquer coisa, até mesmo conjunções adversativas anacrônicas, sem ser condenado ou mal-entendido. Então tá, vamos falar dele, o pãozinho de queijo.

Você sentiu o sangue gelar agora, não foi? Eu sei que esse é um assunto bastante controverso, mas como eu não devo nada a ninguém agora, posso falar com total franqueza e de um ponto de vista totalmente desconhecido, o meu! Muita hora nessa calma, que não é nada disso que alguns podem estar pensando.

Originalmente, existia somente um pão-de-queijo, o autêntico, que levava queijo na sua constituição e tinha o sabor de queijo saído do forno. Mas então algum idiota preguiçoso pensou, e se em vez de colocar o queijo no pão a gente colocasse queijo sobre o pão? Logo esse mesmo idiota criaria uma nova sub-raça mutante de pães-de-queijo, que na verdade é somente um pão de leite com uma polvilhada de queijo ralado por cima. Os pães mutantes dominariam as festas infantis, porque provavelmente eram mais fáceis e baratos de serem feitos, além de encherem as pessoas o suficiente para que ninguém tivesse capacidade de encarar mais de uma fatia de bolo. O problema é que aquilo não pode ser considerado o pão-de-queijo em quase nenhuma condição. E se você quiser sair para a varanda do seu apartamento para comer alguns pães-de-queijo, e de repente bate um vento forte? Além da dona aranha cair pela parede, o seu pão-de-queijo será soprado e o que sobrará? Além de uma aranha muito infeliz por nunca chegar onde quer, um pãozinho de gosto duvidoso. Não há dúvida alguma nisso, senhoras e senhores, o único pão-de-queijo que merece nossa confiança é aquele que não se deixa abalar por brisas litorâneas. Na verdade, o INMETRO devia ter um teste para medir a capacidade de um pão-de-queijo se manter íntegro frente a diferentes condições climáticas de temperatura, pressão e correntes de convexão.

E aqui fica toda minha revolta contra esses malditos pães mutantes.



Tuesday, September 01, 2009

The Lovers(Magritte)


Antes, no começo da confusão que é a união afetiva entre duas pessoas de sexos opostos, tudo era mais simples. Qualquer tipo de relação que seguisse poucos parâmetros em comum era denominada amor e o mundo era um lugar calmo. Hoje em dia, além das milhares de subclassificações para o estado atual da relação(que vão desde ficar, pegar, enrolar e namorar, até separar, divorciar, evitar e “pedir ordem de restrição”), a própria expressão união entre duas pessoas de sexos opostos só lembra vagamente uma espécie de embate corporal entre dois sexos que divergem entre si.

Começa pelo que a mulher quer. Desde o tempo imemorial das cavernas até mais ou menos um século atrás, a mulher só queria uma coisa do homem: sustento. Biologicamente, uma mulher procura um homem com condições físicas de protegê-la e garantir sua sobrevivência em um habitat hostil. Hoje em dia, as selvas são feitas de asfalto e concreto, e para um macho ser considerado capaz de defendê-la da atrocidade de ser humilhada por uma amiga com uma bolsa ou sapato mais bonito, o homem só precisa que uma parte de sua anatomia seja mais avantajada: o bolso. Infelizmente, isso só era verdade até um século atrás.

O que aconteceu para que tudo mudasse? Engana-se quem pensa que foi apenas um fato que levaram as mulheres a abandonarem uma estratégia genética que data de milênios para partir de princípios irracionais na busca de “seu homem”. No começo do século vinte, já haviam começado as lutas das feministas por seus direitos. E eu concordo com elas até certo ponto, afinal por que a mulher não mereceria votar, trabalhar e ter as mesmas possibilidades de crescimento numa sociedade judaico-cristã-capitalista? O detalhe que pôs tudo a perder foi, sem rodeios ou enrolações, a liberação sexual. Ah, feministas, vocês não sabiam o que estavam fazendo. É claro que não foram somente as feministas, mas na década de 60 as mulheres também compactuaram com todo aquele sexo ao ar livre e ideais sujos de paz e amor. Malditos hippies. E o que vemos hoje? Mulheres insatisfeitas com seus maridos e tirando o dinheiro do leite de nossas crianças para ir atrás dos Ricardões; mulheres sendo degradadas na televisão enquanto dançam semi-nuas ao bel prazer de uma multidão fálica; mulheres infelizes, em suma.

E o homem? Quais foram os erros do homem? Antigamente, havia a imagem de provedor do lar, arrimo de família, o chefe, o que vestia as calças, enfim, o homem da casa. E onde foi parar essa imagem. Primeiro, criou-se a moda de mulheres também usarem calças. Depois veio o divórcio. O homem jamais deveria ter permitido a criação do divórcio. Eu digo “permitiu” porque o homem é, instintivamente, contra o divórcio. Afinal de contas, além de caçar, matar baratas e trocar lâmpadas, do que o homem é capaz? Por causa disso, o homem moderno se viu na iminência de uma morte lenta e dolorosa enquanto procurava meias limpas por um apartamento revirado. Logo ele teve que aprender coisas extremamente complexas, como lavar roupas e fazer macarrão. Alguns dos homens, para aprender a viver desse modo novo, precisaram desaprender o que os tornavam homens, e estes precisaram daqueles outros que ainda sabiam, e daí nasceu a homossexualidade. Outros homens, os sobreviventes, nunca mais foram os mesmos depois de um divórcio, e vivem à sombra de uma ex-prostituta oxigenada e fumante. E uns poucos vivem a tensão constante que é o casamento.

Outro fator que fez entrar em decadência a mui longa dinastia dos homens foi o cinema. Uma das maiores invenções voltadas para o entretenimento já criadas, o cinema é um deleite para nossos olhos de macaco, mas um vírus para nossos cérebros de macaco. O cinema fala de histórias que possivelmente nunca irão acontecer, mas que seria ótimo se acontecesse. E mesmo que na maioria das vezes a história não tenha nada a ver conosco, nós nos sentimos ligados a parte daquilo(deve ser algo relacionado com aquela tela gigantesca nos bombardeando com cenas dramáticas, como numa lavagem cerebral, e dezenas de caixas-de-som tocando uma música emocionante). Os homens entenderam, pelo menos a maioria pela primeira vez na vida, o que é romance. As mulheres não tiveram problemas relacionados com isso, já que conviviam com o romance há séculos. Pois sem orgasmos, o que restaria sem à elas? Os homens, no entanto, não sabiam como lidar com isso e se sentiram estranhamente mal e felizes ao mesmo tempo. E daí vieram todas aquelas belas e falsas emoções que vemos sendo traduzidas pelo cinema todos os dias. Então alguns homens, aliás alguns deles, começaram a procurar amor em suas mulheres. As mulheres acharam isso lindo, e quiseram que todos os homens fossem daquele modo. Estava criado o impasse.

Com o passar dos anos, “o impasse”, como ficou mais tarde(há uns cinco segundos) conhecido, se tornou praticamente insuportável, já que agora a moda do amor dita que o homem não declare seu amor tão explicitamente, pois isso seria brega. O correto é declará-lo nas entrelinhas de frases ambíguas e com centenas de jogos mentais. Com isso, as relações de qualquer tipo ficaram tão confusas que quando, por exemplo, você chega numa sorveteria e pede um banana-split, não se sabe se aquilo é realmente um pedido ou uma cantada das mais sujas.

E mesmo assim o mundo continua segue adiante. Com um monte de gente confusa a respeito de tudo e que se proclama especialista em qualquer aspecto da vida.