Essa história que eu vou lhes contar aconteceu há muitos anos, quando coisas como essas ainda aconteciam. Hoje, nada do tipo será visto nestas grandes cidades cheias de cinismo e descrença. Para mim é disso que essa história fala: a fé cega e absoluta de um homem no impossível; mas esse é o meu ponto de vista sobre esse conto do bizarro e do surreal. É claro que ainda existe um pouco de magia por aí, mas ela se encontra perdida na cabeça daqueles homens que não ousam aparecer para o mundo, pois então eles seriam chamados de loucos ou seriam desacreditados. Inclusive há a história que correu solta há alguns meses de um mendigo que amaldiçoou um bando de empresários. E no mesmo instante, onde antes haviam paletós bem cortados e maletas de couro, surgiu uma revoada de corvos que saiu voando desesperada para todos lados, batendo nos postes e arranha-céus. Mas isso é, como todos adoram afirmar para si e para todos, como se repetindo algo bastante essa coisa se tornasse verdade, apenas uma lenda urbana.
Havia um homem extremamente solitário. Seu nome era Walfred, mas como é uma história cheia de inconsistências e como já foi contada tantas vezes por tantas pessoas, seu nome podia ser Tijolo que ninguém saberia. Ele havia casado com uma mulher que não amava e que não nutria quaisquer espécie de sentimentos elevados por ele. Sua sorte tinha feito com que a mulher morresse dois anos após casarem, portanto eu não vou inventar um nome para uma personagem que não tem a decência de ficar viva nem mesmo um parágrafo inteiro. Existem aqueles que dizem que ela o abandonou, outros dizem que ele jamais casou e há também - estes se deliciam em maldizer qualquer um, mas não pode-se dizer também que estejam de todo errados - aqueles que acreditam piamente em esposicídio. Tantas versões da mesma história só faz com que seja mais difícil alcançar a verdade, logo vou resumir a versão mais "provável" do fato.
Acontece que este homem era totalmente voltado para o trabalho. Após algumas semanas, ele finalmente tinha se dado conta que estava sozinho. As pessoas do trabalho tentaram demonstrar uma certa compaixão, mas, após serem ignoradas veladamente, desistiram. Os parentes moravam todos em estados distantes, e ele não tinha um amigo próximo com quem pudesse desabafar. Desabafar o quê, afinal? Falar como ele nunca tinha sido feliz com ela, como ele estava tão sozinho agora que chegava em casa e não havia ninguém para ele destilar todo o seu desdém por tudo e todos, afinal era preciso alguém que se importasse - em certo nível - para se demonstrar desprezo; dizer que ele era incapaz de demonstrar algo mais concreto do que o veneno do cinismo que corria em suas veias de barata. Ele precisava de alguém para contar isso tudo, e quando essa pessoa estivesse tendenciosamente tentada a demonstrar sua compaixão, ele também a ignoraria. Era sua natureza, como era da natureza do escorpião picar o sapo, mesmo que o preço fosse morrer afogado na lagoa, nas costas do sapo.
O tempo, remédio para tudo, mas não para isso, passou inexoravelmente e só fez a solidão do homem aumentar. Os dias pareciam semanas. As semanas pareciam meses. E os meses envelheceram o homem mais do que seria de se imaginar. Parecia que anos haviam se passado, mas não fazia nem um ano do falecimento da esposa mal-amada. Certa madrugada, enquanto o homem considerava certos planos terríveis relacionados a ele mesmo andando pelo seu quintal enluarado, uma rotina que fazia os vizinhos ficarem irritados com seu murmurar inconstante e sem fim, um coco, de um coqueiro que havia mas eu omiti, numa falha literária grotesca, enfim, um coco caiu. Aliás, ele caiu realmente, mas caiu na cabeça do homem. Agora eu vou ilustrar o que aconteceu com uma metáfora(ou alegoria, eu não sei exatamente qual):
Digamos que haja uma enorme barragem que impede uma quantidade massiva de cair sobre uma cidade e inundá-la. Agora digamos que a barragem foi feita por um engenheiro extremamente maldoso, que decidiu colocou uma pedra pequena e brilhante na base da fundação da barragem, avisando para todos no dia da inauguração da barragem: se alguém tocar naquela pedra, toda a barragem desaba e a cidade será inundada. E como ele se orgulha de sua obra, não impedirá ninguém de chegar bem perto para observar como algo tão frágil pode sustentar algo tão monumental. O que você acha que aconteceu em, digamos, umas duas semanas?
A loucura caiu como uma luva para o homem, como toneladas de água fictícia caíram sobre a cidade alegórica. Agora ele não murmurava mais, e sim gritava discursando horas seguidas para seu coco. Quando ele estava muito rouco de fazer odes e homenagens ao coco, o adorava mudamente, acenando como os muçulmanos fazem voltados para Meca. A submissão tinha se tornado o motivo de sua existência, e era muito mais difícil do que imagina você, caro leitor, pois como se prostrar a algo que não demonstra vontade alguma a respeito de nada? E mesmo assim, o coco governava a vida de Walfred como um tirano. E como tiranos não precisam de cérebro para governar, o coco governou muito bem.
Os dias passaram como horas; semanas passaram como dias e o resto daquela baboseira irreal do tempo se convertendo ao meu bel prazer onipotente de escritor. O homem só se alimentava de vermes ocasionais que se arrastavam por ali, pois ele não ousava se afastar do coco e nem ousava tocar no coco para carregá-lo. Certo dia, porém, o que foi a salvação para o homem, pois os vermes já estavam ligados nas intenções do homem-que-falava-com-o-coco, o coco se moveu ligeiramente empurrado pelo vento, e o homem interpretou isso, como um crente cego e alucinado, como um sinal de que o coco queria passear. Na verdade, o homem queria passear com seu parceiro coco, mostrá-lo a todos na rua, e por isso interpretou o que quis quando quis.
Walfred deu banho no coco e o vestiu. Não lhe ocorreu alimentar o coco, já que ele era uma criatura transcedental, mas acho que era uma boa idéia por uma pullôver no coco, pois estava fazendo frio lá fora. Claro que não lhe ocorreu dar um banho em si mesmo, trocar de roupa e muito menos por um pullover, pois agora o frio nada importava para ele. Sua vida era adorar o coco.
As pessoas olhavam atemorizadas para aquele homem com terra na boca, fedendo a todo tipo de matéria escatológica, com roupas esfarrapadas e com um brilho obsessivo no olhar. Alguns fanáticos são difíceis de reconhecer, mas outros são tão óbvios quanto duendes no meu jardim. As pessoas da rua o contornavam em um grande arco, mas Walfred não se importava nem um pouco com essa atitude descortês. Na verdade, ele achava que aqueles homens e mulheres horrorizados estavam abrindo caminho para o Deus-Coco que passava magnífico diante deles. E ele estava extremamente orgulhoso de poder carregá-lo. Estava quase tendo um ataque de orgulho, o que significava que se não respirasse o ar que estufava seu peito, iria sufocar e desmaiar no meio da rua. Não se sabe como aquele homem não foi preso, linchado pela multidão, convertido em Hare Krishna ou qualquer outra desventura dessas, mas de alguma forma ele chegou são e salvo em casa, extremamente cansado por andar pelas ruas sem respirar quase nada.
Certo dia, um dia como qualquer outro e tanto mais perigoso por isso, o homem se sentou para aprender com o coco. Pois agora o coco lhe falava dos grandes mistérios que o permeavam. Ele enchia a cabeça de Walfred com coisas terríveis, lhe falando de lugares no universo onde não existiam sequer praias, o que dizer de coqueiros. Lugares onde a palavra do coco não chegava, mesmo aqui na Terra, e que ele, Walfred, precisava mudar isso tudo. Mas como?, ele perguntou ansioso. Você precisa fazer isso Walfred. Precisa, pois esse é o último passo. E então o coco proferiu a sentença que mudaria a vida daquele homem para sempre. E o homem-que-falava-com-o-coco, sem hesitar um instante, executou suas ordens. Um beijo que o tocou de forma doce e cruel, enrigecendo sua pele e a tornando levemente esverdeada. Fazendo com que seu cabelo virasse uma palha enrolada e dura, e desdobrando seu cérebro lentamente, o colando na base do crânio numa lama branca doce-enjoativa. Walfred finalmente, como alieníginas pilantras que possuem velhinhos indefesos prometendo juventude e horas intermináveis de boliche em suas naves esportivas, coconizou(como no filme).
Há uma bela lição por trás dessa fábula. Talvez a história tenha se modificado um pouco com a tradição oral, mas a essência primordial se manteve. Quem me-o-a contou foi um certo senhor com uma certa fobia irracional de caixas-de-isopor, mas eu nunca pude lhe perguntar quem havia lhe contado para traçar um histórico, já que ele sumiu assim que terminou de contar a história. E até hoje eu me pergunto: o que terá acontecido com o maldito mendigo?
Havia um homem extremamente solitário. Seu nome era Walfred, mas como é uma história cheia de inconsistências e como já foi contada tantas vezes por tantas pessoas, seu nome podia ser Tijolo que ninguém saberia. Ele havia casado com uma mulher que não amava e que não nutria quaisquer espécie de sentimentos elevados por ele. Sua sorte tinha feito com que a mulher morresse dois anos após casarem, portanto eu não vou inventar um nome para uma personagem que não tem a decência de ficar viva nem mesmo um parágrafo inteiro. Existem aqueles que dizem que ela o abandonou, outros dizem que ele jamais casou e há também - estes se deliciam em maldizer qualquer um, mas não pode-se dizer também que estejam de todo errados - aqueles que acreditam piamente em esposicídio. Tantas versões da mesma história só faz com que seja mais difícil alcançar a verdade, logo vou resumir a versão mais "provável" do fato.
Acontece que este homem era totalmente voltado para o trabalho. Após algumas semanas, ele finalmente tinha se dado conta que estava sozinho. As pessoas do trabalho tentaram demonstrar uma certa compaixão, mas, após serem ignoradas veladamente, desistiram. Os parentes moravam todos em estados distantes, e ele não tinha um amigo próximo com quem pudesse desabafar. Desabafar o quê, afinal? Falar como ele nunca tinha sido feliz com ela, como ele estava tão sozinho agora que chegava em casa e não havia ninguém para ele destilar todo o seu desdém por tudo e todos, afinal era preciso alguém que se importasse - em certo nível - para se demonstrar desprezo; dizer que ele era incapaz de demonstrar algo mais concreto do que o veneno do cinismo que corria em suas veias de barata. Ele precisava de alguém para contar isso tudo, e quando essa pessoa estivesse tendenciosamente tentada a demonstrar sua compaixão, ele também a ignoraria. Era sua natureza, como era da natureza do escorpião picar o sapo, mesmo que o preço fosse morrer afogado na lagoa, nas costas do sapo.
O tempo, remédio para tudo, mas não para isso, passou inexoravelmente e só fez a solidão do homem aumentar. Os dias pareciam semanas. As semanas pareciam meses. E os meses envelheceram o homem mais do que seria de se imaginar. Parecia que anos haviam se passado, mas não fazia nem um ano do falecimento da esposa mal-amada. Certa madrugada, enquanto o homem considerava certos planos terríveis relacionados a ele mesmo andando pelo seu quintal enluarado, uma rotina que fazia os vizinhos ficarem irritados com seu murmurar inconstante e sem fim, um coco, de um coqueiro que havia mas eu omiti, numa falha literária grotesca, enfim, um coco caiu. Aliás, ele caiu realmente, mas caiu na cabeça do homem. Agora eu vou ilustrar o que aconteceu com uma metáfora(ou alegoria, eu não sei exatamente qual):
Digamos que haja uma enorme barragem que impede uma quantidade massiva de cair sobre uma cidade e inundá-la. Agora digamos que a barragem foi feita por um engenheiro extremamente maldoso, que decidiu colocou uma pedra pequena e brilhante na base da fundação da barragem, avisando para todos no dia da inauguração da barragem: se alguém tocar naquela pedra, toda a barragem desaba e a cidade será inundada. E como ele se orgulha de sua obra, não impedirá ninguém de chegar bem perto para observar como algo tão frágil pode sustentar algo tão monumental. O que você acha que aconteceu em, digamos, umas duas semanas?
A loucura caiu como uma luva para o homem, como toneladas de água fictícia caíram sobre a cidade alegórica. Agora ele não murmurava mais, e sim gritava discursando horas seguidas para seu coco. Quando ele estava muito rouco de fazer odes e homenagens ao coco, o adorava mudamente, acenando como os muçulmanos fazem voltados para Meca. A submissão tinha se tornado o motivo de sua existência, e era muito mais difícil do que imagina você, caro leitor, pois como se prostrar a algo que não demonstra vontade alguma a respeito de nada? E mesmo assim, o coco governava a vida de Walfred como um tirano. E como tiranos não precisam de cérebro para governar, o coco governou muito bem.
Os dias passaram como horas; semanas passaram como dias e o resto daquela baboseira irreal do tempo se convertendo ao meu bel prazer onipotente de escritor. O homem só se alimentava de vermes ocasionais que se arrastavam por ali, pois ele não ousava se afastar do coco e nem ousava tocar no coco para carregá-lo. Certo dia, porém, o que foi a salvação para o homem, pois os vermes já estavam ligados nas intenções do homem-que-falava-com-o-coco, o coco se moveu ligeiramente empurrado pelo vento, e o homem interpretou isso, como um crente cego e alucinado, como um sinal de que o coco queria passear. Na verdade, o homem queria passear com seu parceiro coco, mostrá-lo a todos na rua, e por isso interpretou o que quis quando quis.
Walfred deu banho no coco e o vestiu. Não lhe ocorreu alimentar o coco, já que ele era uma criatura transcedental, mas acho que era uma boa idéia por uma pullôver no coco, pois estava fazendo frio lá fora. Claro que não lhe ocorreu dar um banho em si mesmo, trocar de roupa e muito menos por um pullover, pois agora o frio nada importava para ele. Sua vida era adorar o coco.
As pessoas olhavam atemorizadas para aquele homem com terra na boca, fedendo a todo tipo de matéria escatológica, com roupas esfarrapadas e com um brilho obsessivo no olhar. Alguns fanáticos são difíceis de reconhecer, mas outros são tão óbvios quanto duendes no meu jardim. As pessoas da rua o contornavam em um grande arco, mas Walfred não se importava nem um pouco com essa atitude descortês. Na verdade, ele achava que aqueles homens e mulheres horrorizados estavam abrindo caminho para o Deus-Coco que passava magnífico diante deles. E ele estava extremamente orgulhoso de poder carregá-lo. Estava quase tendo um ataque de orgulho, o que significava que se não respirasse o ar que estufava seu peito, iria sufocar e desmaiar no meio da rua. Não se sabe como aquele homem não foi preso, linchado pela multidão, convertido em Hare Krishna ou qualquer outra desventura dessas, mas de alguma forma ele chegou são e salvo em casa, extremamente cansado por andar pelas ruas sem respirar quase nada.
Certo dia, um dia como qualquer outro e tanto mais perigoso por isso, o homem se sentou para aprender com o coco. Pois agora o coco lhe falava dos grandes mistérios que o permeavam. Ele enchia a cabeça de Walfred com coisas terríveis, lhe falando de lugares no universo onde não existiam sequer praias, o que dizer de coqueiros. Lugares onde a palavra do coco não chegava, mesmo aqui na Terra, e que ele, Walfred, precisava mudar isso tudo. Mas como?, ele perguntou ansioso. Você precisa fazer isso Walfred. Precisa, pois esse é o último passo. E então o coco proferiu a sentença que mudaria a vida daquele homem para sempre. E o homem-que-falava-com-o-coco, sem hesitar um instante, executou suas ordens. Um beijo que o tocou de forma doce e cruel, enrigecendo sua pele e a tornando levemente esverdeada. Fazendo com que seu cabelo virasse uma palha enrolada e dura, e desdobrando seu cérebro lentamente, o colando na base do crânio numa lama branca doce-enjoativa. Walfred finalmente, como alieníginas pilantras que possuem velhinhos indefesos prometendo juventude e horas intermináveis de boliche em suas naves esportivas, coconizou(como no filme).
Há uma bela lição por trás dessa fábula. Talvez a história tenha se modificado um pouco com a tradição oral, mas a essência primordial se manteve. Quem me-o-a contou foi um certo senhor com uma certa fobia irracional de caixas-de-isopor, mas eu nunca pude lhe perguntar quem havia lhe contado para traçar um histórico, já que ele sumiu assim que terminou de contar a história. E até hoje eu me pergunto: o que terá acontecido com o maldito mendigo?