Monday, November 17, 2008
Síndromes dos tempos modernos (ou ônibus 2)
Todo mundo está ficando pouco a pouco mais louco. A cacofonia dessa frase só não supera sua afonia. Por que mais loucos? Por que mais estamos? Por? Quê? Loucos?!
Pois é, pois é... Como eu estava dizendo, eu estava no ônibus e reparei como é bizarra a atitude que tomamos quando o coletivo está lotado. As pessoas que têm com quem conversar, conversam. Falam sobre os mais variados temas, sem notar que existem mais umas trinta pessoas escutando discretamente o que falam. Chamarei isso de síndrome da inaprivacidade. Quando estamos incapazes de expressar nossos sentimentos de forma secreta e comum(algo como um livro de capa escura, escrito Bíblia, explica como), simplesmente ignoramos todas essas 30 pessoas. Essa é uma atitude racional? Claro que não, mas quem quer ser racional quando se está numa espécie de dança erótica, dentro de uma caixa de ferro, aos tranco e barrancos, indo para casa?
A síndrome de inaprivacidade se caracteriza por uma ligeira abstração da realidade e do que exatamente está encostando, intermitentemente, no seu ombro esquerdo. Pessoas com um ligeiro desvio para o altismo serão mais vítimas dessa síndrome, e não notarão, mesmo que gritem ou ponham em um letreiro em neon, que há um velhinho carente em pé no ônibus pedindo amigos e cantando "Sábado de sol". Talvez essa mesma pessoa nem note que está batendo palmas e cantando com o velhinho, junto a mais trinta pessoas hipnotizadas. E finalmente, há aqueles que chegaram a um patamar superior no nível da abstração, e ignoram completamente uma pessoa que lhe dá um empurrão e chama por seu nome, achando que é "apenas um engano".
"Sete soldados chineses revezavam-se fazendo acrobacias sobre o tatame."
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