Já perceberam o quão inútil é assistir Big Brother? Melhor, já perceberam quão inútil é discutir o quão inútil é assistir Big Brother? Virou moda nos programas de humor, digamos, inteligente. É como se você ganhasse uns 15 pontos de Q.I. se dissesse: "Odeio Big Brother" ou "Pedro Bial é um idiota". Não que alguém precise dizer que é a maior alienação do mundo assistir pessoas vivendo trancadas em uma casa sem fazer nada, exceto discutirem umas com as outras pelos motivos mais fúteis. Só é menos alienado que escutar as citações afetadas e aleatórias de Pedro Bial antes da eliminação de algum participante.
Eu estava assistindo Pânico na TV, que eu considerava um dos únicos programas de auditório bons do mundo, quando eu percebi que ele é só mais um programa apelativo e chato, com piadinhas toscas. Aquela porcaria de quadro do Vesgo e Sílvio. Piadinhas toscas boas, mas mesmo assim... Ai, ai, bons tempos aqueles em que se assistia Chaves sem se preocupar. Hoje só os desenhos do Pica-Pau me salvam. Alguém aí assistiu Tv Globinho ultimamente? Cara, Yugi Oh é um desenho macabro, bizarro, alucinado, totalmente anti-cristão. Como é que eles colocam aquilo pras crianças assitirem? Cheio de rituais, pentagramas desenhados no chão, diálogos com espíritos, é quase uma sessão de descarrego. Não que eu eu tenha alguma coisa contra sessões de descarrego, eu até admiro o lado teatral delas. Só acho que violência gratuita é mais aceitável do que aquilo, como em Cavaleiros do Zodíaco. Acho que nem passa mais Sítio do Pica-pau Amarelo antes, pra dar uma amenizada. Se bem que eu sempre considerei o Monteiro Lobato um pedófilo, com aquela monocelha e o olhar obscuro. Opinião pessoal.
Hum, acho que é só mal-humor mesmo. E para não contagiar vocês, com licença.
=]
Sunday, March 23, 2008
Saturday, March 22, 2008
Girassóis
A vida - ou infinita vida - de Louis sempre foi uma sequência de enganos. Por exemplo, seu próprio nome, que é feminino, e ele nao é; Seu pai nunca foi seu pai; Ele é mais velho cinco anos do que esperava; Nunca foi terráqueo e jamais, em hipótese alguma, mortal.
Todas essas desilusões fizeram de Louis uma pessoa, ou ser pandimensional hiperinteligente, um pouco, só um pouco, infeliz. Quando descobriu que seu pai não era seu pai, entendeu que sua vida não era o mar de rosas que esperava, mas tudo bem. Enquanto sua mãe, que era realmente sua mãe, lhe explicava que ele era cinco anos mais velho do que tinha dito durante esses trinta e dois anos, se consolou pensando que isso era aceitável, e finalmente entendeu porque se sentia tão deslocado das outras crianças. Mas quando ela lhe contou que ele era de outro planeta e, o pior, imortal, nao pôde suportar e começou a chorar.
Qualquer pessoa iria se surpreender, mas a mãe de Louis conhecia suficientemente bem o filho para entender o motivo da choradeira. Os imortais, aquela raça raríssima e babaca que vivia pelo universo como uma espécie de parasitas irritantemente solenes, sabiam como lidar com essa coisa de viver para sempre. Para eles, era como saber que nada podia atingi-los, principalmente porquê eles não podiam ser atingidos, tudo por causa de uma complexa emenda constitucional, cheia de parágrafos e artigos, instituída por um imperador universal imortal - aprovada principalmente pelo medo dos parlamentares de se instituir uma ditadura, por assim dizer, eterna. Os imortais eram a escória do universo. E adoravam.
Só que Louis não foi preparado pra isso, já que seu pai verdadeiro o havia abandonado sem o ensinar como ser um perfeito canalha. E Louis nunca poderia imaginar como gastar tanto tempo livre como a eternidade. Já se matava pra passar os dias tediosos depois que terminava as tirinhas do jornal. E essa era uma coisa que não poderia mais fazer, isso de se matar.
O tempo passou, lento, lento, lento. E Louis percebeu que não envelhecia, não conseguia sequer fingir uma espécie de dor nas costas ou esquecimento. Nem mesmo o desespero, tão esperado, do tempo passando e a nostalgia inevitável vieram, até que ele desistiu de tentar ser mortal. O negócio era pesquisar sobre o assunto.
Louis descobriu que muitas pessoas queriam ser imortais, e descobriu as opiniões delas a respeito. Muitas delas falavam em adquirir todo o conhecimento do mundo. Ele fez isso nos dois primeiros séculos. Descobriu algumas novas leis da física e subverteu algumas. Depois de muito pensar, após algumas décadas, descobriu que a gravidade era apenas um conceito vago, como a própria mortalidade. E quando descobriu isso, como que por mágica, começou a voar a alguns centímetros do chão e sentiu suas entranhas flutuarem. A sensação desagradável o fez discordar da própria teoria, e suas entranhas se reordenaram com o peso.
Com o passar dos anos foi se cansando de aprender, e decidiu se tornar tão promíscuo quanto uma pessoa pode ser. Experimentou, como em um rodízio de sorvete, todas as doenças sexualmente transmissíveis, seus sintomas e sequelas. Durante um breve período se divertiu de uma maneira um pouco bizarra com a sífilis, mas logo desistiu disso também.
Após completar seu primeiro milênio, se cansou verdadeiramente daquilo. Então decidiu que, a partir de agora, sua meta era descobrir um meio de morrer. Começou com um teste prático, se matando. Primeiro se enforcou; depois cortou os pulsos; ingeriu dois vidros de calmantes; pulou de um precipício enquanto queimava com Napalm e atirava com uma magnum na cabeça, mas nada deu certo. Sempre seu corpo acordava regenerado e ele recordava vagamente de uma dor lacinante. Então se decidiu por um método mais filosófico. Descobriu que para matar um deus só precisava fazer com que perdessem a fé nele, mas ele não era um deus. Leu em um grimório antigo, com capa de couro vermelho e cheia de inscrições rúnicas, que para matar um animal mítico, uma quimera de leão, serpente e grifo, precisaria dum chifre de unicórnio. Descobriu que se matasse a águia de Prometeu, ele morreria no dia seguinte. Enfim, descobriu muitas formas de matar coisas aparentemente imortais, mas nenhuma que o matasse. Até que completou seu segundo milênio e, mais uma vez desiludido, desistiu.
No seu duomilionésimo primeiro dia de vida, fez um esforço supremo para ter uma idéia original, qualquer coisa que não tivesse feito pelo menos 400 vezes antes. Depois de muito pensar, com um esforço infantil, falou gaguejando:
- Por que não... pirar?
Ficar maluco, essa era a solução desde o começo. Apressadamente fez os preparativos: criou teorias da conspiração; encenou peças famosas jamais escritas; conversou, compactuou e bebeu chá com criaturas malignas e inexistentes. E, finalmente, enlouqueceu. No seu estágio final de loucura, imaginando que era Van Gogh, cortou a própria orelha para envia-la em pacote pelo correio à sua noiva, mas, achando que era pouco, cortou a outra orelha, o nariz e um grande pedaço da língua. Só que Van Gogh não era imortal. Depois de ir se amputando, parte por parte, quando já estava quase todo esquartejado, percebeu que não estava se regenerando, afinal, era realmente Van Gogh, e não um imortal. Então amputou a cabeça e a selou para sedex à cobrar.
O tempo passou, lento, lento, lento. E Louis percebeu que não envelhecia, não conseguia sequer fingir uma espécie de dor nas costas ou esquecimento. Nem mesmo o desespero, tão esperado, do tempo passando e a nostalgia inevitável vieram, até que ele desistiu de tentar ser mortal. O negócio era pesquisar sobre o assunto.
Louis descobriu que muitas pessoas queriam ser imortais, e descobriu as opiniões delas a respeito. Muitas delas falavam em adquirir todo o conhecimento do mundo. Ele fez isso nos dois primeiros séculos. Descobriu algumas novas leis da física e subverteu algumas. Depois de muito pensar, após algumas décadas, descobriu que a gravidade era apenas um conceito vago, como a própria mortalidade. E quando descobriu isso, como que por mágica, começou a voar a alguns centímetros do chão e sentiu suas entranhas flutuarem. A sensação desagradável o fez discordar da própria teoria, e suas entranhas se reordenaram com o peso.
Com o passar dos anos foi se cansando de aprender, e decidiu se tornar tão promíscuo quanto uma pessoa pode ser. Experimentou, como em um rodízio de sorvete, todas as doenças sexualmente transmissíveis, seus sintomas e sequelas. Durante um breve período se divertiu de uma maneira um pouco bizarra com a sífilis, mas logo desistiu disso também.
Após completar seu primeiro milênio, se cansou verdadeiramente daquilo. Então decidiu que, a partir de agora, sua meta era descobrir um meio de morrer. Começou com um teste prático, se matando. Primeiro se enforcou; depois cortou os pulsos; ingeriu dois vidros de calmantes; pulou de um precipício enquanto queimava com Napalm e atirava com uma magnum na cabeça, mas nada deu certo. Sempre seu corpo acordava regenerado e ele recordava vagamente de uma dor lacinante. Então se decidiu por um método mais filosófico. Descobriu que para matar um deus só precisava fazer com que perdessem a fé nele, mas ele não era um deus. Leu em um grimório antigo, com capa de couro vermelho e cheia de inscrições rúnicas, que para matar um animal mítico, uma quimera de leão, serpente e grifo, precisaria dum chifre de unicórnio. Descobriu que se matasse a águia de Prometeu, ele morreria no dia seguinte. Enfim, descobriu muitas formas de matar coisas aparentemente imortais, mas nenhuma que o matasse. Até que completou seu segundo milênio e, mais uma vez desiludido, desistiu.
No seu duomilionésimo primeiro dia de vida, fez um esforço supremo para ter uma idéia original, qualquer coisa que não tivesse feito pelo menos 400 vezes antes. Depois de muito pensar, com um esforço infantil, falou gaguejando:
- Por que não... pirar?
Ficar maluco, essa era a solução desde o começo. Apressadamente fez os preparativos: criou teorias da conspiração; encenou peças famosas jamais escritas; conversou, compactuou e bebeu chá com criaturas malignas e inexistentes. E, finalmente, enlouqueceu. No seu estágio final de loucura, imaginando que era Van Gogh, cortou a própria orelha para envia-la em pacote pelo correio à sua noiva, mas, achando que era pouco, cortou a outra orelha, o nariz e um grande pedaço da língua. Só que Van Gogh não era imortal. Depois de ir se amputando, parte por parte, quando já estava quase todo esquartejado, percebeu que não estava se regenerando, afinal, era realmente Van Gogh, e não um imortal. Então amputou a cabeça e a selou para sedex à cobrar.
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